Entre as reportagens saídas nos jornais logo na ressaca imediata do 25 de Abril recordo uma, muito curiosa, a respeito de um refractário à tropa, que continuava a viver clandestinamente em casa com a mãe para fugir à incorporação e à guerra colonial. Naquele clima de liberdade eufórica que dominou o final de Abril e a primeira quinzena do Maio de 1974, a reportagem do jornal explicava todos os estratagemas que mãe e filho tinham elaborado para conseguirem camuflar a presença do último em casa.
Mas embora fosse castiço ler as justificações que a senhora prestava à vizinhança sobre a presença de tanta roupa - de homem! - a secar na corda da roupa ou as compras de comida na mercearia (a versão era que o filho estava para França...), o que me marcou, a ponto de deixar recordação, era uma frase proferida pelo clandestino e que até servia de rodapé à sua fotografia que ilustrava a reportagem: - Fascista não queria ser. Spinolista não me deixavam… Recorde-se que ainda se estava numa fase incipiente da Revolução, onde ainda era aceitável reclamar-se spinolista…
O que aquela frase continha de engraçado na sua candura quase ingénua, e ao pretender dar um significado político profundo a uma atitude de mera auto preservação, vim a ouvi-la depois, até perder a piada por ser imensas vezes repetida, de inúmeras outras formas muito mais sofisticadas, sempre que se abordava o assunto da evasão à guerra colonial. Admito que não estou em condições de julgar quem escolheu formas evasivas de evitar a guerra colonial. São problemas que se avaliam quando os problemas se põem em concreto.
Mas sinto-me com o maior à vontade para manifestar todo o meu cepticismo àqueles que justificaram depois a sua atitude através da capa de convicções políticas que uma análise cuidadosa do resto dos factos se encarrega normalmente de desmentir. Como aquele desgraçado da reportagem que invocava (improvavelmente) Spínola, ou que invocaria fosse quem desse, desde que o mesmo o fizesse não embarcar e ir combater na Guerra. Melhores na forma, as invocações da esmagadora maioria dos intelectuais oriundos das classes altas (que muitos ainda mantêm mais de 30 anos depois ...) apenas me parecem mais sofisticadas politicamente…
* Quem faltava à convocatória para cumprir o serviço militar. Aqueles que o faziam depois de o começarem a cumprir eram considerados desertores.
Mas embora fosse castiço ler as justificações que a senhora prestava à vizinhança sobre a presença de tanta roupa - de homem! - a secar na corda da roupa ou as compras de comida na mercearia (a versão era que o filho estava para França...), o que me marcou, a ponto de deixar recordação, era uma frase proferida pelo clandestino e que até servia de rodapé à sua fotografia que ilustrava a reportagem: - Fascista não queria ser. Spinolista não me deixavam… Recorde-se que ainda se estava numa fase incipiente da Revolução, onde ainda era aceitável reclamar-se spinolista…
O que aquela frase continha de engraçado na sua candura quase ingénua, e ao pretender dar um significado político profundo a uma atitude de mera auto preservação, vim a ouvi-la depois, até perder a piada por ser imensas vezes repetida, de inúmeras outras formas muito mais sofisticadas, sempre que se abordava o assunto da evasão à guerra colonial. Admito que não estou em condições de julgar quem escolheu formas evasivas de evitar a guerra colonial. São problemas que se avaliam quando os problemas se põem em concreto.
Mas sinto-me com o maior à vontade para manifestar todo o meu cepticismo àqueles que justificaram depois a sua atitude através da capa de convicções políticas que uma análise cuidadosa do resto dos factos se encarrega normalmente de desmentir. Como aquele desgraçado da reportagem que invocava (improvavelmente) Spínola, ou que invocaria fosse quem desse, desde que o mesmo o fizesse não embarcar e ir combater na Guerra. Melhores na forma, as invocações da esmagadora maioria dos intelectuais oriundos das classes altas (que muitos ainda mantêm mais de 30 anos depois ...) apenas me parecem mais sofisticadas politicamente…
* Quem faltava à convocatória para cumprir o serviço militar. Aqueles que o faziam depois de o começarem a cumprir eram considerados desertores.
Ninguém reconhece que fugiu para o estrangeiro com medo ou para evitar uma morte estúpida no Ultramar.
ResponderEliminarTodos afiançam que se autocondenaram ao penoso exílio para melhor combaterem o fascismo de fora para dentro, algures num café da Bastilha ou à beira do Tamisa.
Of course!!!