Creio que, com a descrição do Sistema Solar a uma escala que nos seja familiar, podemos compreender a dimensão do nosso isolamento, mau grado tudo aquilo que a ficção científica nos queira fazer crer. Assim, imaginando o Sol compactado um milhão de vezes até à dimensão de uma esfera brilhante com 1,4 metros exactos de diâmetro (quase a altura de uma pessoa, mais ou menos a da fotografia) e Mercúrio seria uma esferazinha de 5 milímetros (um grão de areia) que circulava o Sol a cerca de 58 metros de distância (em média). Vénus e Terra seriam outras esferazinhas com 12 e 13 milímetros de diâmetro, a 108 e 150 metros de distância, com a particularidade da Terra ter uma outra esferazinha (de 3 mm) a circulá-la a uns 38 cm em média de distância (a Lua).
Como curiosidade, refira-se ainda que, nessa escala, Júpiter seria um berlinde grande de 14,3 cm e Saturno outro de 12,1 cm, Urano (5,1 cm) distaria quase 3 Km do Sol e Neptuno (5 cm) 4,5 Km. Mas o número que impressiona nesta escala compacta seria o da distância das estrelas mais próximas, no sistema de α Centauro: 39.735 Km! A estrela em questão (Próxima de Centauro) seria uma bolita pequerrucha de 21 cm de diâmetro. Mas, para se manter a ficção, teria de já estar bem fora da nossa atmosfera, na localização aproximada onde se colocam os satélites artificiais de órbitas elevadas, designados por geossíncronos por acompanharem a velocidade de rotação da Terra.
É muito frequente ver exemplos em que a exploração espacial tem sido comparada às explorações marítimas do passado para a descoberta da Terra. É uma analogia engraçada mas a verdade é que é também superficial: há muito mais a diferenciá-las do que a aproximá-las. Hoje sabe-se que desde uma Antiguidade longínqua que os povos dispuseram de equipamento que lhes permitia fazer explorações marítimas. Para utilizar uma terminologia moderna, o problema das explorações marítimas não parece ter sido o do hardware. Há inúmeros exemplos, alguns deles documentados, e outros devidamente comprovados (como nas várias viagens empreendidas por Thor Heyerdhal), em que desde muito cedo as marinhas dispuseram de navios com capacidades aceitáveis de navegação em alto mar.
Assim, não serão surpresas saber que fenícios e egípcios podem ter circum-navegado África, que povos ameríndios podem ter colonizado os arquipélagos do Pacífico, que os vikings atravessaram o Atlântico e chegaram a Groenlândia e à América e que armadas chinesas fizeram o périplo dos países costeiros do Índico (com Zheng He). Em contrapartida os mesmos relatos e experiências são unânimes em considerar como eram deficientes ou rudimentares os sistemas de orientação utilizados por quaisquer desses navegadores. E, como também se pode observar numa colmeia*, o maior interesse nas descobertas consiste em dispor da capacidade técnica que permita a outros reproduzir a viagem do descobridor original.
Terá sido o segredo dos descobrimentos portugueses do Século XV o da reunião de um conjunto de meios técnicos simples que possibilitou visitar as ilhas da Madeira, dos Açores e das Canárias… (que muito provavelmente já haviam sido visitadas no passado) …e lá regressar. Mais, por ser uma questão de descoberta e aplicação de software, era algo que estava ao alcance de um pequeno país, que não se contava, nem de perto, nem de longe, entre os mais poderosos do continente naquela época. Mas também seria pelo reconhecimento de quão marginal e frágil seria essa vantagem adquirida que existia aquela política de segredo para desgosto dos historiadores futuros… Em suma, os descobrimentos marítimos podem ser sintetizados como a adição de software a um hardware que já existia de antemão…
Os descobrimentos espaciais são quase o simétrico de tudo isso. A corrida espacial dos anos 60, devido aos descomunais custos associados ao projecto da colocação de um homem na Lua, só pôde ser assumida pelas duas Superpotências da época - Estados Unidos e União Soviética. Actualmente, as grandes descobertas que podem vir a acelerar o ritmo da exploração espacial têm de vir a realizar-se no campo do hardware, desde a capacidade dos foguetões lançadores, aos métodos de manter as tripulações no espaço em regimes de algum conforto por períodos extensos, e aos métodos de propulsão das naves espaciais que possam encurtar a duração das viagens. O desafio consiste em mandar uma tripulação a Marte e fazê-la regressar, ainda estamos muito longe da USS Enterprise, do Capitão Kirk e de Mr. Spock.
Em contrapartida, a uma distância incomensuravelmente mais avançada, o software (associado a sistemas auxiliares - telescópios) já hoje nos permite saber informações sobre planetas em sistemas solares adjacentes (os tais a 40.000 Km daqui, na nossa escala), em locais onde hoje só o sonho dos escritores de ficção científica nos permite ir… Quase 40 anos depois da estreia do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, somos muito capazes de estar mais próximos de atingir a sofisticação do computador HAL do que a da nave e dos sistemas de hibernação da tripulação que nele aparecia…
Contudo, há algo que os dois descobrimentos poderão vir a compartilhar, só o futuro o dirá no caso da exploração espacial: a capacidade para se auto-financiarem. Depois da experiência dos anos 1960, verificou-se que os custos associados aos programas espaciais ao ritmo a que se efectuaram então estavam muito para além da capacidade económica de qualquer país, mesmo dos Estados Unidos. Esta nova corrida para o espaço, que se antecipa que se virá a concretizar nas década de 2010 ou 2020, pretende-se que venha a ser financiada pelos recursos minerais extraídos da Lua. De certa forma será uma tentativa de reeditar o comércio do marfim, do ouro, dos escravos e da pimenta (malagueta) que financiava (e incentivava) a progressão da rede comercial portuguesa ao longo do Golfo da Guiné, durante a segunda metade do Século XV.
* A abelha que descobriu a fonte de pólen, ao regressar à colmeia, executa um ritual de dança rigoroso descrevendo às suas companheiras a sua orientação em relação ao Sol e o tempo de voo para a atingir.
Como curiosidade, refira-se ainda que, nessa escala, Júpiter seria um berlinde grande de 14,3 cm e Saturno outro de 12,1 cm, Urano (5,1 cm) distaria quase 3 Km do Sol e Neptuno (5 cm) 4,5 Km. Mas o número que impressiona nesta escala compacta seria o da distância das estrelas mais próximas, no sistema de α Centauro: 39.735 Km! A estrela em questão (Próxima de Centauro) seria uma bolita pequerrucha de 21 cm de diâmetro. Mas, para se manter a ficção, teria de já estar bem fora da nossa atmosfera, na localização aproximada onde se colocam os satélites artificiais de órbitas elevadas, designados por geossíncronos por acompanharem a velocidade de rotação da Terra.
É muito frequente ver exemplos em que a exploração espacial tem sido comparada às explorações marítimas do passado para a descoberta da Terra. É uma analogia engraçada mas a verdade é que é também superficial: há muito mais a diferenciá-las do que a aproximá-las. Hoje sabe-se que desde uma Antiguidade longínqua que os povos dispuseram de equipamento que lhes permitia fazer explorações marítimas. Para utilizar uma terminologia moderna, o problema das explorações marítimas não parece ter sido o do hardware. Há inúmeros exemplos, alguns deles documentados, e outros devidamente comprovados (como nas várias viagens empreendidas por Thor Heyerdhal), em que desde muito cedo as marinhas dispuseram de navios com capacidades aceitáveis de navegação em alto mar.
Assim, não serão surpresas saber que fenícios e egípcios podem ter circum-navegado África, que povos ameríndios podem ter colonizado os arquipélagos do Pacífico, que os vikings atravessaram o Atlântico e chegaram a Groenlândia e à América e que armadas chinesas fizeram o périplo dos países costeiros do Índico (com Zheng He). Em contrapartida os mesmos relatos e experiências são unânimes em considerar como eram deficientes ou rudimentares os sistemas de orientação utilizados por quaisquer desses navegadores. E, como também se pode observar numa colmeia*, o maior interesse nas descobertas consiste em dispor da capacidade técnica que permita a outros reproduzir a viagem do descobridor original.
Terá sido o segredo dos descobrimentos portugueses do Século XV o da reunião de um conjunto de meios técnicos simples que possibilitou visitar as ilhas da Madeira, dos Açores e das Canárias… (que muito provavelmente já haviam sido visitadas no passado) …e lá regressar. Mais, por ser uma questão de descoberta e aplicação de software, era algo que estava ao alcance de um pequeno país, que não se contava, nem de perto, nem de longe, entre os mais poderosos do continente naquela época. Mas também seria pelo reconhecimento de quão marginal e frágil seria essa vantagem adquirida que existia aquela política de segredo para desgosto dos historiadores futuros… Em suma, os descobrimentos marítimos podem ser sintetizados como a adição de software a um hardware que já existia de antemão…
Os descobrimentos espaciais são quase o simétrico de tudo isso. A corrida espacial dos anos 60, devido aos descomunais custos associados ao projecto da colocação de um homem na Lua, só pôde ser assumida pelas duas Superpotências da época - Estados Unidos e União Soviética. Actualmente, as grandes descobertas que podem vir a acelerar o ritmo da exploração espacial têm de vir a realizar-se no campo do hardware, desde a capacidade dos foguetões lançadores, aos métodos de manter as tripulações no espaço em regimes de algum conforto por períodos extensos, e aos métodos de propulsão das naves espaciais que possam encurtar a duração das viagens. O desafio consiste em mandar uma tripulação a Marte e fazê-la regressar, ainda estamos muito longe da USS Enterprise, do Capitão Kirk e de Mr. Spock.
Em contrapartida, a uma distância incomensuravelmente mais avançada, o software (associado a sistemas auxiliares - telescópios) já hoje nos permite saber informações sobre planetas em sistemas solares adjacentes (os tais a 40.000 Km daqui, na nossa escala), em locais onde hoje só o sonho dos escritores de ficção científica nos permite ir… Quase 40 anos depois da estreia do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, somos muito capazes de estar mais próximos de atingir a sofisticação do computador HAL do que a da nave e dos sistemas de hibernação da tripulação que nele aparecia…
Contudo, há algo que os dois descobrimentos poderão vir a compartilhar, só o futuro o dirá no caso da exploração espacial: a capacidade para se auto-financiarem. Depois da experiência dos anos 1960, verificou-se que os custos associados aos programas espaciais ao ritmo a que se efectuaram então estavam muito para além da capacidade económica de qualquer país, mesmo dos Estados Unidos. Esta nova corrida para o espaço, que se antecipa que se virá a concretizar nas década de 2010 ou 2020, pretende-se que venha a ser financiada pelos recursos minerais extraídos da Lua. De certa forma será uma tentativa de reeditar o comércio do marfim, do ouro, dos escravos e da pimenta (malagueta) que financiava (e incentivava) a progressão da rede comercial portuguesa ao longo do Golfo da Guiné, durante a segunda metade do Século XV.
* A abelha que descobriu a fonte de pólen, ao regressar à colmeia, executa um ritual de dança rigoroso descrevendo às suas companheiras a sua orientação em relação ao Sol e o tempo de voo para a atingir.
Da Lua creio que só será possível trazer lunáticos e, face à inflação desta espécie, nos mais diversos quadrantes, não devem ter grande valor comercial...
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