A ideia da elaboração de um livro de história europeu comum é coisa que tinha de partir da Alemanha… Entre os alemães há quem tenda ingenuamente a conceber a União Europeia como uma espécie de grande Zollverein, a aliança aduaneira que agrupou os estados alemães no Século XIX antes da união política em 1871. Pela racionalidade alemã, tudo o que contribua para reforçar este mega-Zollverein moderno é bom, só que infelizmente há alguns estados europeus (como o Reino Unido, e agora a Polónia...) que não tem racionalidade nenhuma. O primeiro é um caso perdido, porque se fossem racionais tinham percebido as hipóteses que tinham e feito a paz que Hitler lhes oferecia em 1941…
Pelo que se percebe pela leitura do artigo saído no Diário de Notícias, na prática o que acontece é que há comissões bilaterais que acordam numa redacção aguada dos acontecimentos históricos de dois países, de forma a não melindrar os respectivos amores-próprios. Os exemplos mencionados no artigo falam de livros de história escolar desse estilo numa versão franco-alemã e numa outra nipo-coreana. Embora não conheça o conteúdo de qualquer dos dois, para quem conheça um pouco das histórias comparadas desses dois grupos de países, nem é difícil adivinhar os períodos que foram objecto de maior negociação. Mais a maior surpresa é a menção à adesão espanhola, embora não seja assim tão surpresa qual o parceiro em que poderão estar a pensar para a versão do manual tão-amigos-que-nós-fomos…
E a razão para a surpresa causada por esse internacionalismo histórico dos espanhóis tem a ver com a opinião que formei da forma como eles cultivam certos hábitos que os distinguem das práticas mais universais. Um pequeno exemplo: a minha estadia em Toledo em 2000, coincidiu com umas espectaculares cerimónias comemorativas dos 500 anos do nascimento de Carlos I… Carlos I? Qual Carlos I nascido em 1500? Por acaso tratava-se do Imperador Carlos V – que até nasceu em Gand, na Bélgica… – e que é assim conhecido na História Universal e em todo o lado com excepção daquela parcela dos seus domínios, onde foi o primeiro rei com aquele nome.
Convém esclarecer que a etiqueta – não sei se Paula Bobone conhece esta regra... - para estas situações estabelece que o ordinal pelo qual o monarca é conhecido é o do título mais importante ou, havendo empate, o das possessões mais poderosas. Assim, para dar um exemplo actual, Isabel II é assim designada por ser rainha de Inglaterra, embora seja a primeira rainha com esse nome na Escócia (que é um reino separado). No caso de Carlos, era o quinto imperador do Sacro Império Romano Germânico, além de rei de Espanha, da Sicília e Nápoles, arquiduque de Áustria e mais uma data de coisas. Mas esta regra estabelece inequivocamente que o título mais importante, o que tomará a precedência, é o de imperador e o ordinal que se lhe segue ao nome será o desse título…
Pelo que se percebe pela leitura do artigo saído no Diário de Notícias, na prática o que acontece é que há comissões bilaterais que acordam numa redacção aguada dos acontecimentos históricos de dois países, de forma a não melindrar os respectivos amores-próprios. Os exemplos mencionados no artigo falam de livros de história escolar desse estilo numa versão franco-alemã e numa outra nipo-coreana. Embora não conheça o conteúdo de qualquer dos dois, para quem conheça um pouco das histórias comparadas desses dois grupos de países, nem é difícil adivinhar os períodos que foram objecto de maior negociação. Mais a maior surpresa é a menção à adesão espanhola, embora não seja assim tão surpresa qual o parceiro em que poderão estar a pensar para a versão do manual tão-amigos-que-nós-fomos…
E a razão para a surpresa causada por esse internacionalismo histórico dos espanhóis tem a ver com a opinião que formei da forma como eles cultivam certos hábitos que os distinguem das práticas mais universais. Um pequeno exemplo: a minha estadia em Toledo em 2000, coincidiu com umas espectaculares cerimónias comemorativas dos 500 anos do nascimento de Carlos I… Carlos I? Qual Carlos I nascido em 1500? Por acaso tratava-se do Imperador Carlos V – que até nasceu em Gand, na Bélgica… – e que é assim conhecido na História Universal e em todo o lado com excepção daquela parcela dos seus domínios, onde foi o primeiro rei com aquele nome.
Convém esclarecer que a etiqueta – não sei se Paula Bobone conhece esta regra... - para estas situações estabelece que o ordinal pelo qual o monarca é conhecido é o do título mais importante ou, havendo empate, o das possessões mais poderosas. Assim, para dar um exemplo actual, Isabel II é assim designada por ser rainha de Inglaterra, embora seja a primeira rainha com esse nome na Escócia (que é um reino separado). No caso de Carlos, era o quinto imperador do Sacro Império Romano Germânico, além de rei de Espanha, da Sicília e Nápoles, arquiduque de Áustria e mais uma data de coisas. Mas esta regra estabelece inequivocamente que o título mais importante, o que tomará a precedência, é o de imperador e o ordinal que se lhe segue ao nome será o desse título…
Pelos vistos, os espanhóis, como saloios que mandam na sua paróquia, terão uma etiqueta diferente da comum. Será por isso que costumo hesitar no ordinal com que me refiro a Filipe, filho de Carlos, que também foi rei em Portugal, onde posso seguir a regra tradicional que anunciei acima – e designá-lo por Filipe II – ou, como costumo muitas vezes ver escrito, seguir o preceito espanhol e utilizar o ordinal correspondente ao trono português. É um assunto que se presta a confusões dado que reinaram três Filipes de enfiada e a referência portuguesa é da fórmula n-1 em relação à referência espanhola. Pessoalmente prefiro a opção da ordenação espanhola (II, III e IV) que, além de coerente com as normas internacionais, traduz melhor a minha ideia de como eles foram monarcas espanhóis aceites como reis em Portugal…
O que importa, não perdendo de vista, o início deste poste, é a reportada adesão e reconversão espanhola a estes projectos europeístas de livros de história em versão benigna, da parte de uma escola de historiadores que, veja-se logo pela nomenclatura atribuída aos seus monarcas, é bem conhecida pelo seu europeísmo… Vamos lá a ver se não desponta por aí uma proposta de um projecto bilateral para a redacção de um manual escolar de uma história ibérica, onde aquele episódio de 60 anos de unidade peninsular (1580-1640) apenas terminou mal (com a revolta portuguesa) devido a alguns pequenos mal entendidos…
Uma nota final, estética, para o escudo de armas dos Habsburgos espanhóis que enfeita este poste. É bonito, mas faz-me impressão ver o escudo português dissolvido naquela galeria de cores e formas…
Nice blog, I like it :)
ResponderEliminarKeep it up.
acwo
http://tytka.blogspot.com
Excelente (mais um!)
ResponderEliminarQuanto mais forçarem maior será o estrondo quando rebentar.
ResponderEliminarLS
I congratulate you by your blog.
ResponderEliminarI am from Argentina.
www.diarioperonista.blogspot.com
É verdade, como é que chamamos os tugas ao Filipe II. Não é Filipe I? Acho que há aqui algo mais que simples purismo histórico. Mais um nacionalismo histérico...
ResponderEliminarDaquilo que escrevi no blogue só se pode concluir que os nacionalismos, sejam ou não histéricos, são DOIS.
ResponderEliminarHá aquele que quer que se trate o Filipe por Filipe I e há o outro, tão patusco, que quer que se trate o pai dele, o imperador, por Carlos I.