A 7 de Julho de 1983 era divulgado um texto assinado por 23 intelectuais contra «o estado a que, nos últimos anos, chegou a televisão estatal portuguesa», onde pediam uma modificação urgente «que procure a liberdade e a qualidade da informação e o afinamento cultural de toda a programação». Subentendido ao texto, a «modificação» impunha-se porque «a liberdade e a qualidade de informação» que faltara «nos últimos anos» se devera ao facto da «televisão estatal portuguesa» ter sido controlada por um governo de direita (PSD/CDS). Agora tomara posse um do bloco central (PS/PSD) e era altura de se mudar a equipa da RTP, apesar das proclamações - ingénuas ou hipócritas - de «que a televisão estatal não pode fazer parte do aparelho ideológico do Estado». Visto a esta distância de quarenta anos, e lendo passagens do texto com referências à «incorrecção e a má dicção da língua portuguesa» ou à «promoção da mediocridade nos programas recreativos, que são uma quotidiana lição de mau gosto e falta de sensibilidade», chega-nos a dar vontade de rir no quadro do que é a actual realidade televisiva. Retrospectivamente e porque ninguém os qualificara especificamente nem os mandatara para achar coisas, há que reconhecer que toda aquela intelectualidade era muito petulante e não percebia nada do assunto. Aliás, a sua insignificância para a evolução dos conteúdos televisivos está à vista. Lembrem-se só que ainda ontem, ao fim da tarde, e só para exemplo, as televisões (e não só...) pararam todas para dar o regresso do di Maria ao Benfica... Gostaria de saber o que é que os poucos sobreviventes dos 23 intelectuais signatários têm a dizer desta «qualidade da informação» acutal, deste «afinamento cultural» da programação quando comparado com aqueles de há 40 anos contra os quais reclamaram. Nomeadamente António Pedro Vasconcelos, um intelectual que se revelou nos anos subsequentes, como paineleiro exuberantemente benfiquista em vários desses programas culturalmente afinados de comentário de futebol.
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