A 9 de Maio passado, Sergey Nechayev, o embaixador da Rússia na Alemanha, deu mais uma das tradicionais recepções diplomáticas para assinalar a vitória dos soviéticos na Segunda Guerra Mundial. A embaixada russa em Berlim é uma das heranças dos tempos em que havia duas Alemanhas, com o enorme edifício a simbolizava a influência imensa da União Soviética na então Alemanha Oriental. Não é estranho, por isso, tratar-se de um colosso da era estalinista que se estende, com os anexos, por uma área mais extensa - acima, a vista aérea do complexo - do que o próprio edifício do Bundestag (parlamento) que fica até relativamente próximo. À recepção compareceram uma série heterogénea de dignitários. Incluíam o último líder da Alemanha Oriental comunista, Egon Krenz, agora com 86 anos (à esquerda), conjuntamente com Gerhard Schröder (ao centro), que foi o chanceler da Alemanha reunificada entre 1998 a 2005 (e que, mais recentemente, se transformou num lobista de empresas russas de energia) e ainda Tino Chrupalla, que é um dos dois líderes do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que se notabilizava na ocasião por exibir uma gravata tricolor com as cores russas. A comunicação social alemã prestou deliberadamente muito pouca atenção ao acontecimento, e a atenção que dispensou não escondia alguma dose de desprezo. Para além da esmagadora maioria da classe política alemã, os embaixadores dos países europeus não compareceram em bloco, mas a troica que destaquei entre os presentes, associando um antigo dirigente comunista, um antigo chanceler em busca de um enriquecimento pujante (a fazer lembrar José Sócrates) e um dirigente de uma formação da extrema-direita que depois foi criticado pelo seu gesto por parte da ala neo-nazi do seu partido*, uma associação destas, ia escrevendo, mostra até que ponto o putinismo, e não apenas em Portugal, é uma completa «salada russa».
* É compreensível: para os neo-nazis não há razões para celebrar o dia da derrota do III Reich.
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