22 julho 2023

O APARECIMENTO DO POUJADISMO

22 de Julho de 1953. Tem lugar em Saint-Céré (uma pequena povoação do Sul de França), os primeiros acontecimentos que levarão à fundação da União de Defesa dos Comerciantes e Artesãos (UDCA), uma organização que virá a ultrapassar os propósitos corporativos que o seu nome anuncia. A causa próxima do que viria a ser esse movimento político foi o bloqueio a um controlo fiscal imposto pelas autoridades tributárias aos comerciantes daquela povoação remota para o dia seguinte. A atitude de resistência, que abrangia uma vintena de pequenos comerciante locais, foi encabeçada pelo dono da livraria/papelaria local, de seu nome Pierre Poujade (1920-2003). Os fiscais desistiram do controlo, e o movimento de protesto estende-se aos departamentos vizinhos. E foi desta forma prosaica que Pierre Poujade ganhou bruscamente uma notoriedade nacional. A nova estrela, apesar de ser uma espécie de intelectual de um ignorado rincão de França, revelou-se um excelente orador, com um discurso apelativo para diversos grupos que se sentiam marginalizados pela IV República Francesa, nomeadamente o pequeno comércio e os agricultores. Os inimigos definidos pelo movimento de Poujade eram Paris, os quadros superiores do Estado, as eminências (maçónicas), por fim a comunicação social. Daí a dois anos (1955), a UDCA agruparia 400 mil membros. Nas eleições de 2 de Janeiro de 1956, a nova formação (sigla UFF) receberia quase 2.745.000 votos (12,6%) e elegeria 52 dos 595 deputados da Assembleia Nacional. A extrema-direita francesa aproveitava para ressurgir, depois de quase uma década em que estivera naturalmente proscrita (1944-53), por causa daquilo que acontecera durante o regime de Vichy. Mas, como veremos mais adiante, em outras publicações posteriores deste blogue, este ciclo de ressurgimento da extrema-direita francesa, nesta encarnação com um forte conteúdo populista e agora denominada por poujadismo, também não irá durar um decénio.

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