26 julho 2023

A BATALHA DO RIO SAMICHON

Republicação
26 de Julho de 1953. Fim da batalha do rio Samichon na Coreia. Esta batalha está longe de ter sido uma das batalhas mais importantes, simbólicas ou renhidas da hoje esquecidíssima Guerra da Coreia (1950-53). A situação táctica em que teve lugar é simples de descrever se nos socorrermos do mapa acima. O rio Samichon (assinalado a um azul muito claro) é um afluente da margem direita do muito mais importante rio Imjin (assinalado a um azul mais escuro). O vale do Samichon seria o corredor natural de progressão das tropas norte-coreanas e chinesas (setas vermelhas) no caso de elas conseguirem romper o dispositivo defensivo (a verde) que fora adoptado pelas tropas sul-coreanas e dos seus aliados ocidentais (na sua grande maioria tropas americanas). Na tentativa de obter essa ruptura, a batalha começara dois dias antes, a 24 de Julho, uma ofensiva desencadeada pela 137ª divisão chinesa, com a curiosidade de que uma parte da linha de defesa atacada era guarnecida por um batalhão australiano (as unidades restantes eram americanas) e de que uma unidade de artilharia que os apoiava ser neozelandesa. As características da ofensiva chinesa não se alteraram em relação à táctica que se viera a tornar tradicional naquele conflito: uma ofensiva nocturna (para neutralizar a superioridade aérea esmagadora do inimigo), uma preparação prévia de fogo de artilharia (sobretudo de morteiros) e vagas sucessivas de ataques de infantaria tentando submergir as posições inimigas pela superioridade maciça dos seus efectivos. A comparação das baixas sofridas pelas duas partes mostra o quanto, a esse respeito, aquela guerra era assimétrica.
Os americanos sofreram 43 mortos e 316 feridos; os australianos 5 mortos e 24 feridos; com as estimativas do número de mortos sofridos pelos chineses a cifrar-se entre os 2.000 a 3.000. Mesmo descontando o exagero destas estimativas, a desproporção entre os mortos do lado ocidental para os do inimigo, mesmo usando a estimativa mais cautelosa é de 1 para 40! Mas aquilo que é verdadeiramente impressionante nesta batalha é que ela foi a última da Guerra da Coreia. A batalha do rio Samichon cessou na véspera do dia da assinatura do Armistício - 27 de Julho de 1953 - que pôs fim às hostilidades. Era um acontecimento que estava previsto desde há dias (acima, a edição do Diário de Lisboa de há 70 anos) e que fora o culminar de um arrastadíssimo processo de negociações que durara mais de dois anos, onde houvera 575 reuniões em que - alguém estimou - se haviam trocado 18 milhões de palavras! Mas, para a parte chinesa não se punha o problema de correr o perigo de poder desfazer tudo o que se alcançara até aí e sacrificar mesmo 2.000 vidas para obter ainda, à última hora, uma pequena vantagem táctica adicional para a trazer para a mesa das negociações! Na verdade, no cômputo global e nos últimos meses, eles e os norte-coreanos haviam sofrido 72.000 baixas (dos quais 25.000 mortos) tentando fazer isso mesmo. As negociações na Coreia são tradicionalmente muito duras e inconclusivas e o problema da Coreia não se resolvem com coisas simples que se possam dizer em tweets, nem os tweets têm espaço para que se explique convenientemente porque é que essas simplicidades são um disparate... E disparate é sinónimo de Trump.

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