17 julho 2023

O COLONIALISMO A FINGIR QUE NÃO ERA COLONIALISMO

17 de Julho de 1923. Quase todos os funcionários filipinos do executivo colonial das Filipinas (que eram então uma colónia dos Estados Unidos) renunciaram em protesto contra as acções do governador-geral, o americano Leonard Wood (acima, à esquerda). Wood era um militar de 62 anos e tivera aquilo que mais se assemelharia com uma carreira colonial num país que fingia que não tinha colónias: fora governador numa das províncias filipinas (Moro), também fora governador-geral em Cuba, e tornara-se em Outubro de 1921 o governador-geral das Filipinas. O titular do cargo possuía o poder executivo e também a capacidade de vetar as decisões do poder legislativo - que esse fora entregue, para efeitos cosméticos, aos filipinos. Mas a conduta de Leonard Wood desagradou profundamente às elites políticas filipinas, que eram as que, de facto, faziam funcionar a administração (colonial) do país. Logo no seu primeiro ano no cargo (1921-22), Wood exerceu o seu direito de veto sobre 16 leis, o que era um contraste com o que se passara durante o extenso mandato do seu antecessor que, nesses 8 anos (1913-21), apenas vetara 5 documentos. O pretexto para a apresentação da demissão colectiva do executivo foi um choque de vontades entre governador-geral e secretário do Interior (o filipino José Laurel) a respeito da demissão de um oficial de polícia de Manila chamado Ray Conley. Conley era de origem americana e o governador anulou a sanção. Laurel demitiu-se e, com ele, todo o resto. E é assim que se chega a esta crise política de há cem anos. Manuel Quezón, que seria então, como presidente do senado das Filipinas, a figura mais elevada das suas elites políticas, enviou um extenso telegrama para Washington d.c., apelando ao presidente americano, na época Warren Harding. O que se veio a verificar é que o peso político de Leonard Wood valia muito mais do que uma confrontação com as elites locais filipinas: afinal, Leonard Wood havia sido um dos candidatos fortes à nomeação republicana para as eleições presidenciais de 1920! Enquanto as Filipinas não passavam de uma colónia americana a que os americanos haviam concedido um simulacro de autonomia. Apesar da revolta que o desautorizara, Leonard Wood continuou a ser o governador-geral das Filipinas por mais 4 anos, até à sua morte em 1927.

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