07 outubro 2019

CENAS DE UM BEBÉ AO COLO PROTAGONIZADAS POR UM POLÍTICO QUE É «LEVADO AO COLO»

Não vou falar dos resultados das eleições de ontem, assunto sobre o qual devem existir umas vastas centenas de opiniões publicadas nas redes sociais. Mas quero assinalar que não gosto de números como este acima, que foi protagonizado ontem, junto da sua secção de voto, por Rui Tavares, com a colaboração diligente de alguns fotógrafos de imprensa, o do Expresso à esquerda, e o do Público à direita. A intenção de Rui Tavares será tão clara quanto legítima: fazer um número de circo para chamar a atenção para a sua pessoa, indo votar com duas crianças, uma das quais com seis meses, pendurada na barriga. É uma daquelas coisas que, se pensarmos bem, é um disparate incómodo, não dá jeito nenhum, a não ser que se queira mostrar o quão pai extremoso se é aos 47 anos. Uma virtude que se perderia entre os concidadãos eleitores que coincidissem em estar a votar na mesma altura na mesma secção de voto, a não ser houvesse fotógrafos por perto para o mostrar ao resto dos portugueses que adorem as novelas de uma paternidade responsável. E com fotógrafos que tenham uma capacidade de discernimento idêntica à daqueles que tiram fotografias para as revistas de fofocas, pois a estética do boneco e o enternecimento da legenda, percebe-se acima, são do mesmo estilo. Se era para que falássemos dele, distinguindo-o de uma plêiade de fotografias de protagonistas políticos fotografados no exercício do seu direito de voto, Rui Tavares consegui-o. Se, no processo, recorreu a um expediente que o torna comparável à famosa Lili Caneças, é que talvez não o ilustre tanto. Pior saem os profissionais dos dois jornais que, mais uma vez, são apanhados, acríticos, a levar (figurativamente) ao colo o político que desta vez levava (literalmente) ao colo o seu bebé. Tudo uma questão de colos, portanto.

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