23 de Outubro de 1979. A edição do dia do Diário de Lisboa informava-nos, na segunda página, a do poder local, que Évora ia comemorar a Revolução de Outubro. Uma coisa muito comunista, muito avançada, com uma exposição fotográfica sobre a agricultura do Cazaquistão, um ciclo de cinema soviético e uma sessão solene onde entrava o rancho folclórico infantil de Montemor-o-Novo. No resto do país não havia nada que se comparasse: em Viseu (CDS) não se comemorava o 4 de Julho dos americanos, nem em Coimbra (PS) ou Leiria (PSD) houvera quem se lembrasse de assinalar a data da Revolução Francesa (14 de Julho). Tudo datas importantes na História mundial... Mas em Évora (PCP) estava-se em completa sintonia com os importantes acontecimentos da história russa e celebravam-nos. E o Diário de Lisboa divulgava-os. E, claro, havia quem criticasse o jornal pelo seu alinhamento excessivo com os comunistas. Depois de se ler a notícia das celebrações eborenses (em prol do que acontecera do outro lado da Europa e há 62 anos!), olhava-se para o artigo do lado, sobre Poder Central e Poder Local, e descobria-se sendo assinado por um comunista e um cripto-comunista. Talvez fosse bom ouvir outras opiniões... Se só se tomasse em conta aquilo que ali era publicado, até parecia que o país era esmagadoramente comunista (quando, dali por seis semanas, o PCP iria recolher 18,8% dos votos). Lendo-o, era como hoje acontece com o Observador, só que a cor da propaganda era diferente. E também porque, quem bancava a despesa de sustentar o jornal era o erário público. Por isso, não levem agora o Observador muito a sério e, sobretudo, Não apaguem a Memória que, no projecto das «mais amplas liberdades democráticas» de então, as "liberdades" que os comunistas promoviam não eram amplas nem democráticas. Nem liberdades.
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