19 de Outubro de 1989. Foi o dia da libertação, por anulação da sentença, dos quatro réus que haviam ficado conhecidos como os Quatro de Guildford. Guildford era a localidade (da Inglaterra) onde se localizavam dois pubs que haviam sido alvo de um atentado bombista conjunto em 5 de Outubro de 1974. Nele haviam morrido 5 pessoas, para além de 65 feridos. Os atentados representavam uma escalada da violência que então se registava na Irlanda do Norte: o IRA parecia pretender transportar o clima de insegurança que se vivia na Irlanda para a Inglaterra propriamente dita. Facto que poderá explicar a reacção pressionante das autoridades políticas britânicas não apenas sobre as investigações, como também sobre o aparelho judicial. Os culpados foram rapidamente descobertos, confessaram e um ano depois o julgamento concluía-se com a condenação dos quatro réus à prisão perpétua(!). Foi só depois, e por causa de uma campanha que clamava por justiça, que se começaram a perceber as incongruências do julgamento. Note-se que também era do interesse do IRA (que sabia muito bem quem haviam sido os verdadeiros autores do atentado!) dar a maior publicidade ao tremendo erro judiciário que se cometera, colocando em cheque o aparelho judicial do Reino Unido. A reversão das condenações que há 30 anos teve lugar, foi um gesto extremamente corajoso desse aparelho. Porque não estou a imaginar muitos outros aparelhos judiciais por esse mundo fora a assumirem os seus erros como aqui aconteceu. Como o tempo provará, a admissão do erro foi a decisão que politicamente se revelou a mais assisada para os interesses britânicos, transmitindo globalmente uma imagem de auto-correcção da sua justiça, mau grado todas as vicissitudes do processo. Em 1993, os acontecimentos foram transpostos para um filme intitulado Em Nome do Pai, onde se destacavam as interpretações de Daniel Day-Lewis e de Emma Thompson (abaixo, a reprodução das cenas finais de há 30 anos). O circuito das indemnizações e dos pedidos oficiais de desculpas seguiu um percurso complexo e tortuoso. Gerry Conlon (que é interpretado no filme por Day-Lewis e que acabou por se tornar a figura mais destacada dos quatro condenados), morreu em Dublin em 2014 com apenas 60 anos. E qualquer analogia que se possa fazer da evocação destas pesadas condenações com aquilo que acabou de acontecer em Espanha terá sido uma mera coincidência...
Sem comentários:
Enviar um comentário