01 janeiro 2018

PARA DESFAZER UMA VEZ MAIS O MITO DOS DITADORES PROBOS

O recente falecimento de Carmen Franco (1926-2017), a filha única do generalíssimo Francisco Franco, vem demonstrar mais uma vez no concreto quanto é totalmente falsa aquela muito divulgada teoria da probidade que caracteriza algum género de ditadores (Salazar, Hitler, Stalin). Para além do óbito, é notícia a colossal fortuna que foi amassada por Franco no decurso dos 39 anos em que ocupou o poder em Espanha e que foi depois herdada pela sua filha única, e que é objecto agora de discussão entre os seus sete netos. Se continuamos a ouvir repetida a lengalenga de que Salazar morreu pobre, basta atravessar a fronteira para constatar que, apesar da proximidade ideológica entre os dois homens, Franco, para contraste, morreu riquíssimo. Nestes assuntos os homens distinguir-se-ão mais por uma questão de ética do que por questões de política. E para toda aquela malta que há cerca de um ano andava entretenidissima com a fortuna de milhões legada por Mário Soares (veja-se abaixo), essa malta tem agora uma bela ocasião de comparar fortunas, e para explicar como Francisco Franco, que não era - vejam-se as tags abaixo - nem socialista, nem (porventura?) corrupto, terá acumulado originalmente aquela sua fortuna que foi agora legada pela sua filha. Recorrendo (é bem de ver...) apenas ao seu ordenado de chefe de Estado espanhol...
Na fotografia inicial, datada de Dezembro de 1960, Carmen Franco, que contava então 34 anos, está a ser recebida no aeroporto de Bruxelas, onde se deslocou em representação do pai, para assistir ao casamento do rei Balduíno I da Bélgica com Fabíola de Mora y Aragón, que era espanhola.

5 comentários:

  1. Nunca percebi essa história do Salazar "morrer pobre". Que eu saiba, morreu no Palácio de S. Bento, e não uma qualquer casebre, tinha alguns bens. Que dizer então dos que na altura ainda nem tinham sapatos e vestiam-se miseravelmente, mesmo no Inverno. Como se não se aproveitar de dinheiros públicos em proveito próprio fosse sinónimo de ser pobre...
    Bom ano!

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  2. É curioso porque, até levantar aqui a questão, nunca tinha considerado a expressão no seu sentido literal. Isso porque a via a ser usada normalmente num quadro argumentativo muito passageiro em que o objectivo principal era criticar "os outros".

    Mas tem toda a razão, essas pessoas morrem legando aquilo que foram acumulando ao longo de uma vida de trabalho. Será significativo mas ficar-se-á decerto aquém de uma multitude de prédios de habitação em pleno centro de Madrid.

    Bom Ano!

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  3. O "pobre", no caso de Salazar - e pense-se o que se queira pensar da sua governação -, será usado no sentido figurado de pessoa desprendida dos bens materiais e não no sentido mais literal de alguém carente desses bens ou até miserável.

    A despropósito ou talvez não, do que me recordo da primeira metade dos anos 70, dos tempos imediatamente anteriores ao 25 de Abril, é que certamente ainda havia bastantes pobres na sociedade portuguesa e entre estes não poucos miseráveis, mas mesmo nesse tempo o pé descalço já era uma má recordação histórica (eu, pelo menos, já não me recordo de os ver e certamente não vivia em nenhuma torre de marfim).

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  4. Suponho que haverá muitos outros adjectivos mais úteis do que "pobre" para designar essa condição "de pessoa desprendida dos bens materiais". O recurso à palavra "pobre" não me parece nada casual nem causado por pobreza vocabular mas sim politicamente motivado.

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  5. Há, sem dúvida, um abuso semântico destinado a hipertrofiar uma característica positiva da pessoa em causa.Concordo consigo.

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