Se a colaboração dos franceses com as autoridades de ocupação alemãs durante a Segunda Guerra Mundial é um assunto conhecido, muito mais discreto é aquilo que está publicado sobre o mesmo fenómeno durante a Primeira Guerra Mundial. Este jornal, Gazeta das Ardenas, na sua edição de há precisamente cem anos, é uma das expressões desse primeiro colaboracionismo. Publicado na França ocupada, mais precisamente em Charleville (hoje Charleville-Mézières), a publicação era dirigida por um alsaciano francófono mas germanófilo chamado René Prévot. Uma excelente pena jornalística, na opinião de qualquer das partes do conflito. Redigida obviamente em francês, o seu público-alvo eram, não apenas os 2 milhões de franceses que residiam em território ocupado pelos alemães, mas também os restante 38 milhões que estavam do outro lado das trincheiras. Porém, o que tornava o jornal lido tanto na França ocupada como na que os combatia, eram as listas dos soldados franceses que haviam sido feitos prisioneiros e também as daqueles que haviam morrido no cativeiro - no total virão a ser publicados cerca de 250.000 nomes. Refira-se que a indicação da tiragem que se lê acima no cabeçalho (100.000 exemplares), podendo estar inflacionada, não era uma daquelas mentiras descabidas da propaganda de guerra. Muitas dezenas de milhares de exemplares da Gazeta das Ardenas eram distribuídas e a circulação clandestina do jornal em França era uma preocupação dos responsáveis franceses. Afinal, já há cem anos que se sabia identificar aquilo que interessaria aos leitores e que os levaria a comprar um jornal: não há rival para as páginas dos anúncios classificados do Correio da Manhã, por exemplo.
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