Ainda 2018 não completou o seu primeiro mês e já João César das Neves regressa ao seu tema predilecto, o colapso, a crise, a provável derrocada financeira que era para já se ter realizado e não se realizou mas de que «ainda existe esse risco». O homem é tão insistente que se arrisca a ter razão um dia destes. Não por ser um arguto académico de Economia, um daqueles valores seguros da nossa intelligentsia, mas apenas por ser teimoso: se ele continuar a insistir que vai sair um duque, e porque é sabido que há quatro cartas dessas no baralho, há-de haver finalmente uma vez em que sai um! Mas um dos pormenores verdadeiramente engraçados destas suas mais recentes declarações são as reconstruções retroactivas que o vemos fazer ao passado mais recente, onde se descobre afinal que a recuperação actual é «bastante boa», enquanto a «recuperação verificada nos anos da troika (2010-2014)» foi uma «desgraça».* Proverbial conclusão essa sua, que lhe chegou demasiado depois dos factos, já que quando se viviam aqueles anos, só ocorreu a João César das Neves colocar questões - As 10 Questões da Recuperação (um livro publicado em 2013). Quem sou para lhe sugerir títulos para uma próxima publicação sua, mas, no mesmo registo humorístico que as suas previsões passadas induzem, que tal 10 Questões porque não tenho dado uma para a caixa? (Uma pista: ando a misturar ideologia com ciência).
* Uma desgraça é um eufemismo. Aliás, é a própria palavra recuperação que é o eufemismo: entre 2010 e 2014 o PIB português diminuiu em 6% (dados Pordata). Aliás, em 2016, o valor do PIB ainda se encontrava 4% abaixo do valor máximo que alcançara em 2008.
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