10 de Janeiro de 1968. Depois da realização do primeiro transplante cardíaco na Cidade do Cabo no início do mês anterior, o panorama informativo mundial de há cinquenta anos tornara-se frenético na cobertura de mais cirurgias idênticas, debitando nomes de pacientes e de cirurgiões a um ritmo que se tornava difícil de acompanhar para o leitor menos atento. A edição deste dia de 1968 anunciava em destaque de primeira página a morte de Louis Block, o quinto transplantado, e nas páginas interiores que Michael Kasperak se sentara pela primeira vez depois da operação e que o doutor (neste caso, um paciente, dentista) Philip Blaiberg continuava a melhorar. Por outro lado, ainda nessa mesma página traçava-se o perfil do doutor Adrian Kantrowitz, cirurgião norte-americano e candidato a grande rival do sul-africano Christiaan Barnard e dava-se publicidade à opinião de um «conhecido» mas não nomeado cirurgião canadiano que era um «amigo da onça»: duvidava do êxito dos transplantes do coração. Contudo, nos finais de 1968 já haviam sido realizadas mais de cem cirurgias semelhantes, embora sempre com taxas de sucesso bastante modestas. Mas, por essa altura, o assunto, que chegara a suplantar as notícias de um sério défice energético português e também a recolha de novas fotografias da superfície lunar, já se banalizara e abandonara os cabeçalhos da imprensa. Hoje acontecem cerca de 3.500 transplantes cardíacos por ano em todo o Mundo e, a não ser que haja interesse no assunto por causa da figura do transplantado, como aconteceu recentemente no caso de Salvador Sobral, o acontecimento não tem qualquer relevo noticioso.
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