11 abril 2012

A FORMA MAIS INTELIGENTE DE SE SER ESTÚPIDO

Já numa fase final das pesquisas que conduziram a construção da primeira bomba atómica soviética, o grupo de cientistas que dela estavam encarregues recebeu a visita de um grupo de generais a quem foi mostrado os dois hemisférios de plutónio (como os de cima) que viriam a constituir o núcleo da bomba. Os generais, oriundos tanto do exército vermelho quanto do KGB, nada percebiam de energia nuclear, uma ciência que estava então na sua infância, mas não se intimidaram com a sua ignorância, mostrando-se inquisidores e arrastando as perguntas para o campo da segurança, que costuma ser tradicionalmente desvalorizado pelos cientistas.

Depois de perguntar a um deles, que niquelava um dos hemisférios, o que ele estava a fazer, um dos generais perguntou-lhe como é que ele tinha a certeza que o metal que estava a trabalhar era plutónio. A primeira resposta do cientista foi teórica, académica, que ele conhecia e acompanhara todo o processo para a sua obtenção¹, portanto tinha a certeza que se tratava de plutónio. A resposta não satisfez um dos generais que lhe contrapôs: como é que ele poderia assegurar que a peça não fora substituída por outra de ferro. Aí, o cientista pegou num contador Geiger e apontou-o para o hemisfério que começou a craquejar assustadoramente: - Está a ver? Está a emitir partículas alfa!

- Mas o núcleo pode ser de ferro e ter apenas uma camada exterior de plutónio para o contador Geiger registar os estalidos! – disse um outro general. O cientista estava a ficar incomodado², pegou no hemisfério e fez tenção de o entregar aos generais: - Peguem nele, está quente! Foi então que um dos generais rematou o como seria facílimo aquecer uma peça de ferro. Num desespero ousado, o cientista sugeriu que o general se sentasse com o hemisfério nas mãos durante as próximas 24 horas para verificar se ele arrefecia ou não… O desafio não foi aceite mas a resposta parece ter satisfeito os visitantes que não voltaram a insistir mais naquela questão.

Desconfio que não serei o único disposto a apostar que àqueles generais nunca lhes terá passado pela cabeça a impressão de obtusidade que causaram, apesar do esforço que fizeram para produzirem o resultado oposto. Se, num mundo ideal, aquele género de controvérsias nunca deviam ter existido, considerado o desequilíbrio de conhecimentos das duas partes, no mundo real felizmente elas existem – algumas também aqui nos blogues… – para benefício da nossa boa disposição. Conseguir-se ser estúpido na forma como se procura provar aos outros que se é inteligente parece-me ser a expressão mais cómica, sublime e patética da estupidez.

¹ Como expliquei aqui, o Plutónio é um elemento obtido artificialmente.
² Recorde-se que a conversa tem lugar em 1949, na União Soviética de Estaline, aquele paraíso das mais amplas liberdades democráticas… e, reconhece-se agora, alguns excessos.

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