Regressando ao quadro da
Proclamação do Império Alemão pintado por
Anton von Werner que usei mais abaixo, creio que poucos saberão que o quadro que afixei (acima) era apenas uma das três versões que o pintor pintara daquela mesma cerimónia, aquela que é considerada precisamente a mais simbólica por nela se destacar a figura de
Otto von Bismarck (ao centro, de branco). As outras duas versões perderam-se durante a Segunda Guerra Mundial, embora ainda é possível apreciar uma das outras versões a partir de fotografias – infelizmente ainda a preto e branco… – que haviam sido tiradas antes do desaparecimento.

A cerimónia é a mesma mas a perspectiva é diferente, o pintor está mais distanciado do palco onde decorre a aclamação. Diminui visivelmente o protagonismo, tanto
do monarca como de Bismarck, tal como a expressão do militarismo que acima se associa à proliferação de espadas desembainhadas. Pelo contrário, mais do que à exuberância das suas manifestações, nesta versão quer dar-se muito mais atenção ao número de participantes de que se pretende dar a impressão que encheriam a
Galeria dos Espelhos do
Palácio de Versailles. Não é verdade, a galeria tem 73 metros de comprimento, mas o local adquiriu a carga simbólica da cerimónia.

Foi por isso que as potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial escolheram em 1919 essa mesma Galeria para o local da assinatura do
Tratado de Versailles sobre a Alemanha vencida. Acima, um quadro dessa cerimónia, da autoria de
William Orpen, onde se identificam aqueles mesmos espelhos por detrás dos participantes. Esperava-se que ali se encerrasse o
Ciclo do Aço da imposição da hegemonia alemã sobre a Europa (1871-1918). Contudo, foram precisos ainda mais 26 anos para que esse Ciclo se encerrasse efectivamente, já não em Paris mas em Berlim. E a imagem icónica da ocasião já não foi pintada, apenas fotografada…
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