Lúcio Quíncio Cincinato foi um patrício romano do Século V a.C., cuja actuação política ficou preservada nas histórias de Roma como o melhor modelo de virtudes cívicas da República. Segundo nos conta Tito Lívio, a sua última contribuição para a preservação das liberdades republicanas aconteceu em 439 a.C., quando Cincinato já tinha 80 anos e, vindo do conforto da sua reforma, lhe foram conferidos poderes ditatoriais para enfrentar uma ofensiva populista contra o regime encabeçada que era por Espúrio Mélio, conspiração essa que rapidamente foi derrotada, com Cincinato a resignar imediatamente dos seus poderes depois de eles terem deixado de ser necessários, para depois regressar modestamente à sua vida privada. Apesar do extraordinário valor destes gestos, a notoriedade de Cincinato é mínima nos dias de hoje, adivinhe-se lá porquê. Poucos saberão, por exemplo, que a cidade de Cincinnati no Ohio (Estados Unidos), foi assim baptizada em sua homenagem.
Pois foi do comportamento desprendido do Cincinato octogenário que me lembrei quando li a sugestão recentemente apresentada por outro octogenário reformado, Silva Lopes, para que se estabelecesse um tecto de dois mil euros para as pensões, realçando quanto a sua situação é privilegiada, ao acumular quatro pensões, incluindo uma respeitante à sua esposa, entretanto falecida. É que o episódio demonstrou como, mesmo entre os octogenários, parece ser muito mais fácil dar-se opiniões do que ser-se Cincinato, pois por uma primeira vez, o opinativo octogenário Medina Carreira, instado a comentar a sugestão do seu colega, optou por responder que Não tenho nada de dar opiniões. São de natureza pessoal. O que é importante é que o nosso sistema tem de ser mudado. De resto é conversa fiada. O jornal esclareceu complementarmente que a pensão de reforma do inquirido monta a 6.900 euros (brutos). Mas deixou ao leitor a liberdade da conclusão do que é que é conversa fiada…
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