Um dos sintomas da tensão dos tempos é que se perde o tino. Relembrando outros tempos tensos, em 1938, quando na Europa já se parecia antecipar o desencadear daquilo que viria a ser a Segunda Guerra Mundial, havia quem propusesse o dispositivo acima para o passeio dos bebés pelas ruas em tempo de guerra, preventivamente protegidos de um hipotético bombardeio com gases tóxicos da aviação inimiga, embora o proponente parecesse mostrar-se obtuso à evidência que a mãe ou a aia da criança preferiria certamente deixar a criança em casa em vez de a vir fazer tomar ar à rua correndo quaisquer riscos, ainda por cima encerrado daquela forma claustrofóbica no que parecia ser um carrinho de castanhas…
Pedro Lomba, porventura reputado por ser um homem muito simpático e muito inteligente (e também com muitos amigos com audiência que dizem muito bem dele…), parece ter sido atacado de uma dessas obtusidades funcionais ao descrever a medida de redução do horário de trabalho da função pública (contra a consequente diminuição da remuneração) como uma medida mais amiga da família ou mesmo mais amiga da tranquilidade. Não se duvidando da sinceridade do sentimento de Pedro Lomba, este afigura-se-me aquilo que se poderia qualificar sem qualquer controvérsia de amizade recente, já que os funcionários públicos ainda não se esqueceram que no princípio do mês passado tiveram o seu horário aumentado e aí, surpreendentemente, sem a contrapartida de qualquer aumento de remuneração. Depois de um aumento do tempo de trabalho a título gracioso, a proposta de uma redução do mesmo onerada é para ser acolhida com o mesmo gesto que vemos a Pedro Lomba embora com o indicador a ser substituído pelo dedo médio...
Embora discorde da onda de críticas formuladas a uma recente intervenção televisiva de Margarida Rebelo Pinto, a esmagadora maioria dessas críticas deixam-me indiferente. A excepção, com a qual me defrontei por acaso no facebook é a do politólogo André Freire (acima). Ainda hoje não encontrei explicação satisfatória para o que seja a ciência da politologia que qualifica que um gajo descaradamente do bloco vá para uma televisão mandar palpites mascarado de independente. Adjectivos como inteligente, lúcido, cívico ou politicamente imparcial com que ele mimoseia Margarida Rebelo Pinto descrevem-no tão bem a ele quanto ela. E a argúcia daquilo que ele diz em estúdio desperta-me uma vontade de comprar a sua marcante produção académica idêntica à da literatura cor-de-rosa de Margarida Rebelo Pinto… Olha o argueiro, pá!
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