Eu já conhecia a figura das nomeações de Cardeais in pectore, pessoas a quem o Papa conferira esse estatuto mas que achava, por qualquer razão, prudente manter o gesto em segredo, até melhor oportunidade. Descobri agora com a carta de demissão de Vítor Gaspar que na política (e na comunicação social) portuguesa se passou a aceitar coisa parecida, a figura da demissão in pectore. Isto só acontecerá porque Vítor Gaspar, por se ter finalmente demitido (a sério) parece ter deixado abruptamente de ser alvo de comentários críticos. Mais a sério e apesar da cambalhota, é muito difícil aceitar agora como verdadeira a determinação de alguém que alegadamente alertava em Outubro de 2012 para a urgência da sua substituição. Como outras palavras do português por si tornadas famosas como colossal ou enorme, urgência também tem um sentido preciso que não se ajusta aos sete meses e meio decorridos depois da manifestação dessa intenção. Creio que os portugueses, o melhor povo do mundo, sabem perfeitamente que não se pode forçar ninguém a permanecer contrariado num cargo por sete meses e meio. Aliás, convém lembrar que houve até um colega de governo de Vítor Gaspar (embora de menos importância e visibilidade) que, nesse mesmo mês de Outubro de 2012, mesmo não se demitindo, arranjou uma oportuna razão de saúde para se ir embora do governo. Hoje parece ter recuperado, curou-se enquanto, de acordo com o que agora nos querem fazer crer, Passos Coelho procederia com urgência à substituição de Vítor Gaspar.
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