03 julho 2013

ISTO AGORA SÓ LÁ VAI COM COMISSÁRIOS

Apesar da tensão, creio que a actual crise política portuguesa deverá ser vista distanciadamente como a expressão de um problema administrativo que se coloca à Europa moderna (acima): tudo se resume à constatação que ainda não se tornou politicamente aceitável que, nos países-membros intervencionados, as pastas mais sensíveis do elenco governamental sejam entregues aos quadros das organizações financiadoras dos resgates. A verdade é que, como a Segunda Guerra Mundial demonstrou, acaba por não ser difícil descobrir nos protectorados da periferia alguns políticos locais que, por convicção ou interesse, aderissem aos princípios centralistas da Europa. Foram os exemplos de Pierre Laval em França, Vidkun Quisling na Noruega ou Anton Mussert na Holanda (na fotografia abaixo, a discursar).
Mais do que esse, o problema com que as autoridades do III Reich se depararam foi a contradição que atender às especificidades políticas desses protectorados fazia com que as administrações locais se tornassem muito menos eficazes para os interesses centrais. É assim que, regressando ao exemplo holandês, para o resolver e por detrás do líder fascista local que se vê a discursar na foto acima, houve que criar um aparelho administrativo encabeçado por alemães¹, com um Reichkommissar no topo, Arthur Seyß-Inquart, que era directamente assessorado por quatro Generalkommissars com pastas específicas: für Finanz und Wirtschaft (finanças e economia), für das Sicherheitswesen (segurança), zur Besonderen Verwendung (funções especiais), e für Verwaltung und Justiz (administração e justiça).
Os kommissars não só tinham opiniões vincadas sobre o que se devia fazer (como os actuais membros das troikas - acima), como tinham também a autonomia para o fazer, sem se incomodarem com pentelhos como maiorias parlamentares ou questiúnculas entre partidos coligados. E vejam-se as vantagens para a nossa situação actual: não se duvida, para quem argumenta com isso, como os mercados reagiriam positivamente se, em vez de Maria Luís Albuquerque, Pedro Passos Coelho tivesse nomeado um dos alemães da troika, Rasmus Rüffer (esq.) ou Jürgen Kröger como o nosso Komissar für Finanz aus Portugal. O único óbice é que eles não só desconhecerão o ditado popular vão-se os anéis, fiquem os dedos, como não têm que se preocupar sequer com o estado em que deixam os dedos, que são nossos e não deles... 
¹ Registe-se que Seyß-Inquart e três dos quatro komissars eram de origem austríaca.

1 comentário:

  1. Caro António

    É desta que os teus "amigos" comunistas vão crucificar-te ...

    Mas é verdade que Portugal não tem tido nenhum ESTADISTA há várias décadas ... ! E parafraseando o Sousa Tavares, só nos calham palhaços nas mais altas chefias do Estado !

    Um abraço

    Pedro

    ResponderEliminar