19 julho 2013

...PARA A FOTOGRAFIA

Voltando ao ciclismo como tema de Verão, permitamo-nos recordar como a modalidade tinha que viver no interesse popular da rivalidade assanhada entre dois ases do pedal. Entre as mais nostalgicamente interessantes que recordo, há a entre os franceses Anquetil e Poulidor além-fronteiras e a entre Joaquim Agostinho do Sporting e Fernando Mendes do Benfica cá por casa. Mas a fotografada acima é mais longínqua, reúne os italianos Gino Bartali (à esquerda) e Fausto Coppi em pleno duelo esforçado numa etapa de montanha da Volta à Franca de 1952. A estrada ainda não é asfaltada, os carros que acompanham os ciclistas são jipes, é nítida a ausência dos adeptos à beira da estrada como hoje os vemos a incentivar os ciclistas. No fim daquele esforço, seria Coppi a vencer a etapa de 266 km, passando a envergar a camisola amarela. 
 
Porém, o que distingue a fotografia é o instantâneo de solidariedade entre os rivais, entregues a si próprios para se reabastecerem e que trocam o que parece ser uma garrafa de água. O gesto é simples e poderá ter sido puro mas apenas se manteve assim até à fotografia se ter tornado conhecida e a polémica se ter desencadeado entre os dois clãs sobre quem estaria a dar a garrafa a quem. A fotografia não é explícita, ambos teimavam ser eles os dadores, um deles mentia e sessenta anos depois ainda se escrevem artigos no jornal pretendendo encerrar a polémica. Mas, mais do que apenas sobre ciclismo, a fotografia é também uma boa metáfora sobre o momento político actual e as negociações a decorrer entre os partidos, em que suspeito que o mais importante para eles será, mais do que a atitude, a forma como eles forem apanhados na fotografia…

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