15 junho 2012

UMAS OUTRAS ELEIÇÕES GREGAS (1862)

 Enquanto a Europa aguarda ansiosa o desfecho das eleições que terão lugar na Grécia no próximo Domingo permitam-me aqui evocar umas outras eleições gregas que, como estas, envolveram a atenção de toda a Europa (diplomática), eleições onde os gregos manifestaram inequivocamente a sua vontade, vontade essa para a qual a dita Europa se esteve pura e simplesmente a marimbar – um risco não despiciendo de se repetir nestas próximas. Essas outras eleições gregas tiveram lugar em Dezembro de 1862 embora o escrutínio dos votos se tivesse arrastado até Fevereiro de 1863. Percebe-se: o objectivo das eleições era escolher um novo monarca para a Grécia e os eleitores podiam escrever no boletim de voto qualquer nome da sua escolha – o democraticíssimo sistema do write-in.
 Como se havia chegado àquela situação? A Grécia independente tinha cerca de trinta anos. Nesses trinta anos o primeiro monarca grego – que fora escolhido por acordo das potências europeias – revelara-se um fiasco. Otão I (1815-1867) era um príncipe bávaro que viera para a Grécia acompanhado de um staff governamental e de uma guarda de corpo de 3.500 homens da mesma origem. Manteve-se católico enquanto a esmagadora maioria dos gregos eram ortodoxos. Casou com uma princesa alemã protestante. O casamento foi na Alemanha quando teria tido importância que se realizasse em Atenas. Por tudo isto, é compreensível a azia que a tutela germânica desde aí despertou nos gregos que até criaram a palavra bavarocracia (Βαυαροκρατία). Mas o pior é que Otão não tivera herdeiros que lhe sucedessem…
 Depois da deposição do desastrado Otão em Outubro de 1862 (acima), tiveram lugar às tais eleições para escolher um sucessor adequado. De entre as 27 respostas válidas dos 241.202 votantes (uma participação impressionante tendo em conta que a Grécia tinha 1.100.000 habitantes na época), 95,36% votaram em Alfredo (1844-1900), o segundo filho mais velho da rainha Vitória. O príncipe Alfredo do Reino Unido foi solenemente proclamado rei na Assembleia Nacional grega. Mas as potências europeias tinham um acordo que impedia que qualquer dos familiares das respectivas casas reais aceitasse a coroa grega. E foi por negociação destas que a escolha acabou por recair no príncipe Guilherme da Dinamarca (1845-1913), que recebera 0,0025% dos votos e que adoptou o nome de Jorge como rei dos helenos. 

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