21 junho 2012

FASCISTAS… GREGOS?

 Há cerca de um ano foi publicado em Portugal o livro acima. O autor é um sociólogo britânico (Michael Mann) que lecciona e trabalha principalmente nos Estados Unidos. A edição original data de 2004 mas, tratando-se de um tema que costuma suscitar tanta relutância em ser abordado, a sua publicação em português vem a revelar-se muito útil. A edição portuguesa distingue-se pelo destaque que é dado na capa ao prefácio de António Costa Pinto – 18 páginas. Compreende-se o expediente comercial: quase ninguém saberá quem é o autor enquanto o prefaciador é um daqueles que costuma dar na televisão. O contributo de Costa Pinto vem a tornar-se importante porque procura colmatar uma das graves lacunas do livro: a ausência de referências a Portugal...
 O livro começa por uma análise sociológica dos fascismos, relembrando aquilo que, sendo óbvio, foi durante décadas deliberadamente omitido, para hoje se tornar esquecido: que, nascendo como reacção aos excessos do capitalismo liberal, a estrutura social dos militantes fascistas não se distinguia substantivamente de outras ideologias partilhando essa mesma génese – nomeadamente dos comunistas. O caso emblemático é o de Benito Mussolini (acima), que começou por ser o editor do Avanti!, o jornal oficial dos socialistas italianos, mas há milhares de outros exemplos de militantes que transitaram da extrema esquerda para a extrema direita (e em sentido inverso…) por aquele túnel que aproximava todos os que preconizavam soluções totalitárias anti-democráticas.
 Posteriormente, o livro procura explicar as causas para a ascensão daquela ideologia na Europa dos dois decénios de entre as Guerras (1919-39). E vai procurar fazê-lo através do que ocorreu em vários países europeus: Itália, Alemanha, Áustria, Hungria, Roménia e Espanha. O autor escolheu casos canónicos como o italiano. Outros são mais curiosos do que importantes: o austríaco – poucos se dão conta que a Áustria já era uma ditadura fascista antes da Alemanha a anexar em 1938 (o Anschluss). Noutros ainda, a história é protagonizada por confederações de organizações autoritárias da direita nacionalista e não exclusivamente por fascistas: os casos da Hungria, Roménia e Espanha. Finalmente, há os casos dos países que o livro esqueceu: Portugal, a Grécia ou a França de Vichy. 
 Não fora o preâmbulo de António Costa Pinto e Portugal não apareceria neste Fascistas que afinal inclui vários outras contribuições não fascistas. Mas foi mais recentemente, ao consultá-lo a propósito da Grécia e do regime do general Metaxas (nas duas últimas fotografias) que melhor me apercebi das lacunas – e do pretensiosismo implícito do título – do livro de Mann. Tratava-se – agora sem possibilidade de acusações de facciosismo patriótico… – de uma outra omissão grave. Onde o ponto comum mais óbvio que encontro nos dois regimes (português e grego) – e não insinuo com isso que tenha sido essa a causa do esquecimento de Mann – é o facto de qualquer deles ter colocado os seus interesses estratégicos antes dos alinhamentos ideológicos durante a Segunda Guerra Mundial.
Em suma e quanto ao livro: se sobre estes tópicos aceitarmos que em terra de cegos quem tem olho é rei, vale a pena destacar que neste caso o rei é zarolho…

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