A peça musical acima é o pouco conhecido Concerto nº 23 em Lá maior de Mozart. Provavelmente, ao leitor não interessará ouvir os 23 minutos que demorará a sua execução, se eu lhe explicar que o que mais interessará para esta minha história é a identidade da solista desta versão: Maria Yudina (1899-1970), que era uma pianista soviética muito apreciada por Stalin. Certa noite, Stalin passou uma parte do seu serão ouvindo rádio, onde nesse dia se transmitia uma interpretação muito parecida com esta (de 1943) do Concerto nº 23 de Mozart com ela ao piano. E tanto terá gostado dela que mandou que a rádio lhe mandasse uma gravação… que não existia: o programa fora transmitido ao vivo e não ficara registado.
Contudo, a União Soviética sob Stalin era uma sociedade socialista muito avançada, onde não se brincava em serviço, senão a brincadeira arriscava-se a terminar na Sibéria – ou com consequências ainda piores… E foi assim que, assinalando mais uma evidência do progresso socialista, uma sonolenta Maria Yudina foi tirada da cama a meio da noite para se ir juntar ao mesmo grupo de músicos num estúdio de gravação de Moscovo onde se repetiu, gravando, madrugada fora, a interpretação do Concerto nº 23 que tanto agradara ao camarada Stalin. E eles não foram os únicos a terem uma madrugada agitada pois no dia seguinte, o disco, acabadinho de prensar, já lá estava no Kremlin…
O que a História perdeu foi o registo do número de vezes (se alguma...) que Stalin o terá ouvido, ao disco da madrugada, mas deve ser um gosto para aqueles comunistas que nunca esmoreceram, nem depois do Muro, ouvir estas histórias de outrora sobre a eficácia do Verdadeiro Socialismo…
Gravar discos (ou cassetes) sempre foi especialidade da casa...
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