11 maio 2012

«UM HOMEM DE MUITA LEITURA»

 Não sei a quem atribuir a responsabilidade, se aos entrevistadores, se ao entrevistado, mas há que constatar que uma entrevista de jornal a Vasco Correia Guedes (a.k.a. Vasco Pulido Valente) nunca parece ficar completa se o entrevistado não aparecer devidamente fotografado diante de uma estante repleta de livros – daqueles de não ficção e aspecto denso. É obscenamente saloio.
 O mais próximo que estive disso foi uma vez em que um amigo me apresentou a uma pequena roda numa ocasião social introduzido pela expressão um homem de muita leitura. Eu bem sei que a ideia era generosa, destinada a desempatar um impasse de opiniões divergentes, mas Deus sabe quão constrangido fiquei ao emitir depois a tal opinião que subitamente se tornara douta, apenas porque sim. 
 Constrangimento esse que, notoriamente, não parece afectar nada Vasco Correia Guedes nestas suas imagens repetidas de pensador, quando parece transportar aquele peso atrás de si. O que é uma pena é que só raramente as fotografias possibilitem que, para além do aspecto, se possa apreciar o conteúdo e se consigam avaliar as fontes de onde lhe vem tanta cultura. Também só porque sim... 
 Quando isso acontece, como na penúltima fotografia¹ (acima) deste poste, conclui-se que a arrumação e o método não serão o forte do proprietário: embora seja sempre complicado identificar os livros só pela sua lombada, existem dois livros sobre o mesmo tema (Berlin e Stalingrad - batalhas simbólicas da 2ª Guerra Mundial)  com o mesmo autor (Antony Beevor) em que cada um aparece num extremo da fotografia…
Mais aprofundada, há uma outra fotografia em que se descobrem nos extremos da foto dois livros que, pelo título e letra da lombada, parecerão em tudo idênticos. Mentes maldosas sugeririam que se trata da mesma obra comprada e arrumada repetidamente por negligência, mas se calhar será o carácter ímpar da cultura de Vasco Correia Guedes a fazê-lo estudar, edição por edição, a mesma biografia de Léon Blum    
¹ Nas penúltima e última fotografias há que clicar em cima delas para as ampliar.

5 comentários:

  1. Há uns 30 anos,aqui em Águeda,um casal de novos-ricos,construiu uma mansão.Uns dias antes da inauguração,a proprietária,meteu-se no Mercedes,indo a uma boa livraria de Coimbra,e pediu ao funcionário:
    -Venda-me quatro metros e meio de livros para meter numas prateleiras da casa que vou inaugurar.

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  2. A primeira entrevista que Mário Soares deu a seguir ao 25 de Abril na sua casa de Entre Campos, era acompanhada de uma fotografia do próprio, sentado num cadeirão de orelhas, iluminado por um candeeiro de pé alto com uma estante de livros por detrás, que transmitia um ambiente de recolhimento, reflexão e conforto tão ao meu gosto.
    Na altura, com 24 anos pensei, um dia hei de ter uma coisa assim.
    Hoje tenho uma secretária/ilha onde me sento rodeado por livros, discos (sim LP/EP) CD, DVD, um aquário, um frigorifico e uma garrafeira, uma mesa de jogo com um tabuleiro de xadrez e uma "caixa" que permite jogar desde o póquer à sueca, onde as restantes pessoas da casa raramente entram, mesmo assim proibidas de arrumarem o que quer que seja.
    Que diabo, aos 61 uma pessoa tem direito a ter a sua própria noção de arrumacão.
    Contrariamente ao cidadão em causa este espaço, pelo que foi dito atrás, não é público.
    Esta necessidade de figuras públicas mostrarem aquilo que designam pelos seus sítios íntimos é coisa que me faz muita confusão.
    A obra publicada não chega?
    O ego não cabe na pele?

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  3. está bem que a decoração livresca é um tique (que nem sequer é exclusiva dos portugueses) Mas, caramba, não estará a exagerar? (V. não tem livros repetidos?)

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  4. Como de resto penso ter deixado indiciado no poste, creio que existe Fernando Frazão, um efeito concatenado entre o ego vascaíno e um embevecimento acrítico e acéfalo de uma representativa fracção da classe jornalística portuguesa.

    Tome-se o exemplo da primeira fotografia (pode ser ampliada) onde uma embevecida Inês Pedrosa se propõe admirar a sublime biblioteca vascaína. É fácil embriagarmo-nos com tais torrentes de admiração...

    Quanto às perguntas que me deixa, José Pimentel Teixeira, deixe-me começar pela mais fácil: tenho de facto livros repetidos. Não os tenho é as repetições nas estantes, nem emparelhados, nem muito menos espalhados para ocuparem um pouco mais de prateleira.

    Quanto ao exagero, sentir-me-ia de facto a exagerar se me tivesse posto com considerações sobre o facto de não conseguir identificar naquelas duas últimas fotografias nenhuma lombada de um livro em português... (V. não tem livros em português?)

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  5. bem, quanto às prateleiras cada um desarruma-as como quer ... Em português? Tenho alguns. Bom fim-de-semana, e boa arrumação de prateleiras (vou aproveitar esta conversa como incentivo)

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