06 maio 2012

EFEMÉRIDES (1)...

Hoje, apenas a comunicação social holandesa parece ter interesse em assinalar o décimo aniversário do assassinato de Pim Fortuyn (acima). Nem vale a pena especular se a cobertura mediática teria sido esta mesma se Pim Fortuyn tivesse sido um político ambientalista holandês que houvesse sido assassinado por um activista de extrema-direita agressivo. É mais do que evidente que não! Mas como o assassinado era considerado um político de extrema-direita e o assassino foi um activista do ambiente e dos direitos dos animais mais exaltado, o assassinato perdeu aquele interesse mediático que uma história com os bons e os maus a desempenhar os papéis correctos teria merecido.
Dez anos depois do assassinato, Pim Fortuyn permanece uma das figuras interessantemente desalinhadas da política europeia deste princípio do Século XXI. Tendo nascido numa família católica na província da Holanda, perto de Haarlem e tendo a certa altura da infância mostrado desejo em ser padre, Fortuyn veio posteriormente a militar nos partidos comunista e trabalhista antes de chegar ao populismo. E esse populismo de Pim Fortuyn, que constituiu uma Lista com o seu nome para concorrer às eleições holandesas de Maio de 2002, caracterizava-se por ideias próprias que desmontavam a classificação simplista de extrema-direita como a comunicação social europeia em bloco as crismou.  
Os anacronismos com os cânones da extrema-direita começavam pelo facto de Pim Fortuyn ser homossexual assumido¹ E continuavam pela xenofobia da organização que afinal era selectiva: havia uma hostilidade desdenhosa não disfarçada ao Islão, que Fortuyn classificava como uma religião retrógrada. Para realçar a distinção, a sua lista continha membros de outras minorias². Sendo um dos primeiros casos a reconhecer o fracasso da política de assimilação e do multiculturalismo europeu, a lista adoptava por constraste posições liberais quanto ao consumo de drogas, era a favor dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo e da eutanásia. Veio a receber 17% dos votos nessas eleições holandesas de 2002.    

¹ Para comparação e contraste, só se veio a saber que o líder da extrema-direita austríaca Jörg Haider (1950-2008) era homossexual depois da sua morte.  
² Por exemplo, o substituto de Forteyn no parlamento depois do seu assassinato era de ascendência cabo-verdiana.

3 comentários:

  1. Dez anos, quem diria...ainda me lembro que nesse dia, fortuyn tinha ido desejar felicidades à equipa do Feyenoord, que nesse noite jogava uma final europeia (que ganhou). Depois de ver as ideias do seu movimento, achei estranha a conotação de "extrema-direita" que lhe atribuíam. Sem dúvida uma extrema-direita sui generis, "adaptada ao seu tempo", ou mais previsivelmente, um movimento a-ideológico de reacção a algum extremismo islâmico que já se manifestava nos Países Baixos, como aliás aconteceu com o assassinío de Theo Van Ghog. Quanto aos defensores dos direitos dos animais, parece-me na sua maioria uns fanaticozinhos que gozam de razoável imagem pública. Não faltará muito até quererem dar o direito de voto a animais, um pouco como Calígula...

    ResponderEliminar
  2. Creio que neste último caso que refere tratar-se-ia mais do direito dos animais a poderem ser eleitos...

    ResponderEliminar
  3. Referia-me ao direito de voto dos animais, mas neste caso no Senado. Acredito que haja umas boas almas que o defendam, mesmo que Calígula tenha sido um dos estadistas mais insanos que a História regista.

    ResponderEliminar