
Foi preciso ter lido
Mao’s Great Famine para me ter apercebido da relativa preponderância do papel desempenhado por
Zhao Ziyang (1919-2005) durante aquele período na China que veio a ser baptizado como o
Grande Salto em Frente (1958-1962). Hoje sabe-se que o
Grande Salto em Frente provocou também uma
Grande Fome, um dos episódios mais cruéis desse género ocorrido nos tempos modernos, que terá causado a morte a umas 15 (estimativas oficiais…) a 45 milhões de pessoas. E foi aí que Zhao Zhiyang se destacou, no
empenho como
requisitava o cereal que havia sido escondido pelos camponeses esfomeados (certamente
reaccionários...) na província por que então era responsável,
a de Guangdong.

Reconhecido o fracasso dos resultados do
Grande Salto em Frente, o empenhado Zhao Ziyang (acima), que se tornou muito mais tarde facilmente reconhecível pelos seus óculos com
lentes enormes em formato de ecrã de televisão, foi mais um dos inúmeros
bodes expiatórios que
expiaram as culpas na vez do inatacável
timoneiro Mao Zedong, patrocinador do
Salto. Zhao atravessou o período inicial do auge da
Revolução Cultural (1966-1976) exilado e ostracizado, até vir a ser recuperado pelo primeiro-ministro
Zhou Enlai em 1971. Depois, seguiu-se uma nova fase ascensional ainda melhor sucedida, que culminou com a sua ascensão ao cargo de primeiro-ministro de 1980 a 1987 e depois ao de secretário-geral do Partido Comunista em 1987.

Foi ocupando esse cargo que ele veio a protagonizar
os acontecimentos da Praça Tiananmen da Primavera de 1989. Zhao Ziyang representou a face do poder que parecia disposta a dialogar com os jovens manifestantes, como aparece sintetizado na fotografia acima, hoje icónica, de um respeitado político do aparelho rodeado de
juventude, dirigindo-se às massas de megafone na mão. Sabe-se como foi o desfecho, e como Zhao Ziyang acabou por ser de novo purgado, exilado e ostracizado, desta vez até à sua morte dezasseis anos depois. Tendo descrito aqui, ainda que muito sumariamente, a sua carreira política, não posso deixar de assinalar a ironia de haver quem o queira transformar, depois disso, num
democrata, como neste
diário secreto abaixo…

Deixo para o fim a nota optimista de como os mesmos ciclos se repetem, esclarecendo a razão porque na fotografia de 1989 mais acima deixei assinalado um dos presentes com uma circunferência: é que aquele
quadro de aspecto ambicioso que ali aparece ao lado (e passando por alguém que está muito próximo) do então secretário-geral, é hoje e desde 2003,
o primeiro-ministro da China,
Wen Jiabao... Também ele terá passado certamente pelos seus maus bocados depois dos acontecimentos de Tiananmen que ditaram então a derrota da corrente a que pertenceria. Mas o cargo que ele hoje ocupa prova que as suas diferenças de opinião com o bloco vencedor de então não deviam ser nem profundas, nem intransponíveis…
E por aqui vou aprendendo...
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