17 junho 2011

O OBSERVATÓRIO, OS OBSERVADORES E O TRATAMENTO JORNALÍSTICO «ISENTO» QUE TEM VINDO A SER DADO AO QUE É OBSERVADO

Por vezes surpreendo-me quando descubro o quanto este blogue envelheceu a ponto de começar a ter um arquivo. Quase precisamente há cinco anos atrás escrevia aqui sobre um Relatório de Primavera (para o ano de 2006) de um organismo intitulado Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) e passado um ano voltava a fazê-lo para a edição do mesmo documento de 2007. Em qualquer dos dois casos, eu chamava a atenção para como a controvérsia associada à publicitação mediática de alguns conteúdos de tais relatórios, que parecendo mostrar-se extremamente críticos quanto à actuação do titular da pasta da Saúde (à época Correia de Campos), podia ser facciosa, dado que por detrás dos Relatórios do tal Observatório, se descobria Constantino Sakellarides (abaixo), desde há muito um inimigo de estimação de Correia de Campos para a área da Saúde dentro das facções do Partido Socialista.
Valerá a pena adiantar que, em qualquer das duas Primaveras, os órgãos de comunicação social copiavam-se, papagueando uma súmula praticamente idêntica das críticas do Relatório sem por um instante aflorarem aquele pequeno pormenor que eu mencionara?... O que vale é que existe a História comprovando factos e incompetências jornalísticas. Neste caso foi rapidamente: em Janeiro de 2008 Correia de Campos demitiu-se do cargo sendo substituído por Ana Jorge. Será que alguém adivinha qual foi o empolamento mediático do Relatório aparecido seis meses depois, na Primavera de 2008? E qual a notoriedade consagrada pela comunicação social aos Relatórios editados em 2009 e 2010?... É isso: ou os relatórios perderam conteúdo ou o interesse da comunicação social pelo que continha esmoreceu subitamente por causas incógnitas – não terá sido certamente por uma melhoria abrupta da situação da saúde em Portugal!
Se Jesus Cristo ressuscitou ao terceiro dia, a atenção mediática (e a faceta crítica) socorrendo-se dos conteúdos dos Relatórios da OPSS ressuscitou ao quarto ano (2011). Em Junho deste ano, derrubado o governo socialista de José Sócrates e eleita uma nova maioria nas eleições do passado dia 5, a pretexto do Relatório do Observatório de 2011, as notícias da comunicação social aparecem de novo dotadas de um recuperado preciosismo de detalhes (e cabeçalhos!) muito pouco abonatórios para o SNS, como os 1288 dias de espera por uma consulta de urologia – e não outra especialidade qualquer… – num dos hospitais algarvios. Há quem responda e quem pretenda reagir. Muito bem! Se necessidade houvesse de comprovar o contínuo e descarado objectivo político (camuflado) da divulgação de tais Relatórios, repare-se que, desta vez, nas notícias não se faz mencão a Ana Jorge, por acaso a titular da pasta já há uns três anos e meio…

3 comentários:

  1. Muito bom e muito verdadeiro. A chamada asfixia democrática sempre lhes permitiu publicar notícias contra os que queriam derrubar. Era mais assim uma Asfixia derrubativo-selectiva. Quando um dia, alguém sério nos olhar à distância de 30 ou de 40 anos que pensará de nós?

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  2. Certeiro, mais uma vez. O Relatório da Primavera como meio de luta política, em que a análise que faz é pouco precisa e nada independente, ao contrário do que proclama na sua página de apresentação.

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  3. Não lhe sei responder pelos que nos irão observar daqui a 30 ou 40 anos MFerrer, mas posso-lhe dizer já na actualidade, que creio que perdemos tempo demais a analisar as questões políticas e sectoriais em termos de cores políticas, como se os partidos fossem uma espécie de clubes de futebol, quando existem inúmeros exemplos de que as disputas se processam transversalmente aos partidos - pelo menos quando se trata de partidos que praticam a democracia interna...

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