01 maio 2006

GEORGES SIMENON

Consta que Georges Simenon (1903-1989), o famoso escritor belga universalmente conhecido como o autor dos inquéritos do Comissário Maigret, não gostava de escrever as histórias policiais que lhe traziam tanta fama e tanto proveito. Até ao fim da sua vida, Simenon sempre ficou com a amargura de que o reconhecimento lhe vinha das obras que ele não gostava de produzir.

Não sei até que ponto esta versão corresponderá rigorosamente à realidade, mas é notório que, ao longo dos mais de 40 anos que duram ao inquéritos de Maigret, houve várias tentativas para os encerrar, vindo a ser retomados passado um hiato de vários anos. No fim da sua carreira, parece que Simenon se resignou ao ritmo de escrever um Maigret por ano, aproximadamente.

O exemplo de Simenon, reconhecido simultaneamente como um excelente escritor de língua francesa e um escritor popular, com mais de 500 milhões de exemplares de livros seus vendidos, ocorreu-me a propósito da recente controvérsia sobre a literatura light e da crítica a tal estilo literário, envolvendo Margarida Rebelo Pinto, a sua editora e João Pedro George, um crítico literário.

Sugiro que este último siga o exemplo e atinja a sua superioridade moral de Simenon quando menosprezava a literatura popular, escrevendo um livro de literatura light e publicando-o sob um pseudónimo. Aos 15.000 exemplares vendidos poderá expor a fraude e os direitos de autor poderão ir para obras de assistência. Pelo exemplo, não precisará de dizer mais nada sobre a simplicidade e a menoridade de tal estilo.

Assim como está, arrisca-se sempre a que, quando João Pedro George aborda o assunto Margarida Rebelo Pinto, encontremos no ar a suspeita do odor discreto do despeito…

1 comentário:

  1. Eu também me conto entre os grandes apreciadores do Comissário Maigret. E confesso que gosto mais das histórias policiais em que Maigret participa do que nas outras obras escritas por Simenon, que considero, aliás, um grande escritor em francês.

    O que pretendo destacar, indo buscar o exemplo de Simenon, é que é possível compatibilizar uma excelente qualidade de escrita com a popularidade. Mais do que isso, mesmo na hipótese de lhe dar menos prazer escrever obras com a participação do Comissário Maigret, continuou a fazê-lo e os resultados mostravam a mesma qualidade.

    Ora, quando JPG critica, menoriza e rebaixa o estilo de MRP sugiro-lhe que seria muito mais simples e decisivo fazê-lo demonstrando como aquele estilo é fácil de copiar. Nem todas as obras de um escritor podem ser obras primas mas, quando alguém se aplica e tem qualidade (como Simenon), produz algo de qualidade.

    Também sou um incondicional. Ambos sabemos que a bebida de Maigret ia variando conforme os inquéritos: ao seu Calvados posso retribuir-lhe com um Marc?

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