
Não sei até que ponto esta versão corresponderá rigorosamente à realidade, mas é notório que, ao longo dos mais de 40 anos que duram ao inquéritos de Maigret, houve várias tentativas para os encerrar, vindo a ser retomados passado um hiato de vários anos. No fim da sua carreira, parece que Simenon se resignou ao ritmo de escrever um Maigret por ano, aproximadamente.
O exemplo de Simenon, reconhecido simultaneamente como um excelente escritor de língua francesa e um escritor popular, com mais de 500 milhões de exemplares de livros seus vendidos, ocorreu-me a propósito da recente controvérsia sobre a literatura light e da crítica a tal estilo literário, envolvendo Margarida Rebelo Pinto, a sua editora e João Pedro George, um crítico literário.
Sugiro que este último siga o exemplo e atinja a sua superioridade moral de Simenon quando menosprezava a literatura popular, escrevendo um livro de literatura light e publicando-o sob um pseudónimo. Aos 15.000 exemplares vendidos poderá expor a fraude e os direitos de autor poderão ir para obras de assistência. Pelo exemplo, não precisará de dizer mais nada sobre a simplicidade e a menoridade de tal estilo.
Assim como está, arrisca-se sempre a que, quando João Pedro George aborda o assunto Margarida Rebelo Pinto, encontremos no ar a suspeita do odor discreto do despeito…
Sou grande admirador do Simenon-Maigret, já li e reli vezes sem conta estas obras que têm como figura central o famoso comissário. Não sei se é grande, média ou baixa literatura, nem tal me preocupa.
ResponderEliminarSei que gosto, e isso me basta.
Não estou nada certo do anunciado desprezo de Simenon por Maigret, uma vez que um e outro se confundem.
Porém, Simenon era um homem atormentado, possuído por vários demónios entre os quais o de uma certa forma de genialidade.
Ninguém enfadado ou contrariado pode construir personagens com a densidade que Simenon pôs nos incontáveis seres que cruzaram o caminho de Maigret.
Mas eu sou suspeito, embora nunca tenha sido interrogado por Jules Maigret no Quai des Orfèvres.
Sou suspeito e incondicional. "Parbleu", como diria o comissário, antes de saborear o seu primeiro copinho de Calvados...
Eu também me conto entre os grandes apreciadores do Comissário Maigret. E confesso que gosto mais das histórias policiais em que Maigret participa do que nas outras obras escritas por Simenon, que considero, aliás, um grande escritor em francês.
ResponderEliminarO que pretendo destacar, indo buscar o exemplo de Simenon, é que é possível compatibilizar uma excelente qualidade de escrita com a popularidade. Mais do que isso, mesmo na hipótese de lhe dar menos prazer escrever obras com a participação do Comissário Maigret, continuou a fazê-lo e os resultados mostravam a mesma qualidade.
Ora, quando JPG critica, menoriza e rebaixa o estilo de MRP sugiro-lhe que seria muito mais simples e decisivo fazê-lo demonstrando como aquele estilo é fácil de copiar. Nem todas as obras de um escritor podem ser obras primas mas, quando alguém se aplica e tem qualidade (como Simenon), produz algo de qualidade.
Também sou um incondicional. Ambos sabemos que a bebida de Maigret ia variando conforme os inquéritos: ao seu Calvados posso retribuir-lhe com um Marc?
Ao "marc" (bagaço) falta o perfume do Calvados que é (para quem não souber) aguardente de maçã. O nome (Calvados) é o da região onde é produzida.
ResponderEliminarEm tempos, consegui arranjar umas garrafitas de origem privada, caseira que era um regalo.
Mas a nota curiosa é o gosto do nosso Jules em beber praticamente sempre a mesma coisa ao longo de uma investigação, mantendo a bebida com que inicia a operação.
Um dos seus pecados veniais é a bela cerveja bebida em cafés vetustos de balcão de zinco.
Ah, este fabuloso Maigret! Ficaríamos aqui horas a dissecar uma personagem de ficção que mais me parece um amigo chegado...