07 maio 2006

AS ESSÊNCIAS E AS APARÊNCIAS

Há figuras emblemáticas das histórias nacionais, que simbolizam como quase nenhuma outra o respectivo nacionalismo e contudo, quando se sabem alguns detalhes das suas vidas, percebemos como há paradoxos que acompanham o facto indiscutível de se terem tornado num ícone duma história nacional.

Comecemos pela figura de Vitória (1819-1901), Rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda, e mais tarde Imperatriz da Índia, o maior símbolo do apogeu britânico no mundo, cujo primeiro idioma materno foi o alemão, casou com um alemão e usou o alemão como o idioma doméstico.

Contudo, na Alemanha, o rei Frederico II da Prússia (1712-1786), conhecido para a história germânica como Frederico o Grande, aprendeu o francês simultaneamente com o alemão, e foi o primeiro idioma que sempre viria a preferir durante toda a sua vida, quer na correspondência, quer nos inúmeros textos que produziu.

Mas em França, a única pessoa que poderá disputar ao general de Gaulle, a personificação do espírito francês do século XX, Georges Clemenceau (1841-1929), falava inglês com grande fluência, tendo trabalhado nos Estados Unidos durante quatro anos, onde aliás tinha casado. Apesar do francês ser a linguagem diplomática da época, foi em inglês que decorreram as cimeiras dos líderes das três grandes potências (Clemenceau, Lloyd George pelo Reino Unido e Wilson pelos Estados Unidos) que levaram aos Tratados de Paz de 1919.

Sabendo tudo isto, e até por ter um precedente notável na história do seu país, que mensagem pretenderá Jacques Chirac passar, ou que figura pretenderá fazer, quando nas cimeiras internacionais pretende não perceber o inglês? Fazer passar-se por importante, por interessante, ou por decadente?

2 comentários:

  1. De Chirac nada me admira e, quem ouve um francês a falar inglês percebe que existe ali uma "alergia" que, na inversa, também é verdadeira!
    Como corolário, que tal um discurso de Bush Jr., MESMO em inglês?

    ResponderEliminar
  2. A minha convicção que Chirac sabe inglês baseia-se no facto de que do seu CV constar que ele esteve a fazer um curso de verão em Harvard, nos USA, em 1953.

    Não é como Bush Jr., que faz constar que fala castelhano, como bom texano que é, e que em cada cerimónia em que se lhe dirigem em castelhano fica agarradinho ao auricular como um bébé de uma chupeta...

    Definitivamente, quando em 1958 se escreveu a constituição da V República francesa, NÃO se estava a pensar que um fulano como Chirac pudesse chegar à presidência...

    ResponderEliminar