21 abril 2020

A NOTÍCIA QUE VENDE

Quanto à origem do vírus, parece que não há nada a fazer. Porque o que interessa não é esclarecer os leitores, antes alimentar a paranóia dos já tem ideias formadas a respeito do assunto. Ao contrário do que escreve acima o jornalista do Observador*, a «tese» do vírus criado artificialmente não foi apenas «desmentida por vários cientistas». Foi desmentida por quase todos os cientistas a que se reconhece poderem pronunciar-se sobre o assunto com autoridade. Que se dizem cansados de o repetir vezes sem conta, apresentando argumentos que continuam a não convencer os cépticos. Que, convém esclarecer, não percebem ou não querem perceber nada do que se lhes explicou, chamar-lhes cépticos funciona até como um elogio, porque, no fundo, são apenas idiotas a quem se presta demasiada atenção. Mas, descontando aquela esmagadora maioria de cientistas que acha que o covid-19 tem origens naturais, deve sobrar este «controverso virologista francês», que diz precisamente aquilo - uma boa teoria da conspiração! - que interessa a um jornal que precisa de chamar a atenção sobre si. E é a opinião deste último que é publicada. Não por estar cientificamente mais sustentada que as outras (pelo contrário), mas porque se encaixará com as convicções íntimas de quem a escreve e/ou com a sua percepção do que é que o seu leitor tipo gostará de ler. Observado assim vê-se o quanto a informação pode ser um negócio sórdido.

* Edgar Caetano. É um jornalista... medíocre. Veja-se este exemplo. Ou este exemplo.

Adenda: Dois dias depois, o mesmo jornal, por intermédio de Ana Suspiro e Beatriz Ferreira, mostra que, quando quer, também pode produzir coisas úteis e esclarecedoras...

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