20 abril 2020

A INVASÃO DE HAINAN

20 de Abril de 1950. Uma das interessantes mas discretas notícias daquele dia era a situação que se vivia na ilha chinesa de Hainan, no extremo sul da China. Com uma área de 32.900 km2 (o tamanho da Bélgica) e habitada na época por pouco mais de 2 milhões de habitantes, a ilha permanecera uma das poucas regiões da China que ainda se mantinha sob controle de autoridades nacionalistas. Se o resto da China continental constituía agora a República Popular da China (comunista), também era verdade que na questão específica das capacidades anfíbias dos exércitos comunistas, elas se haviam revelado insuficientes para conseguir derrotar as guarnições nacionalistas existentes em algumas das ilhas existentes ao longo da costa da China. Já aqui se mencionou o exemplo de Quemoy e de como essa vitória defensiva desencadeara expectativas entre os nacionalistas (e entre os seus aliados norte-americanos) na subsistência de um regime chinês alternativo, que exercesse a sua autoridade sobre uma China insular. Nesse projecto, a ilha de Hainan, com os seus 32.900 km2 e com os seus 2 milhões de habitantes constituiria, com Taiwan ( 35.800 km2 e 7,5 milhões de habitantes), um dos dois núcleos principais. O problema é que Hainan colocava problemas tácticos para ser defendida que contrastavam com a posição de Taiwan (a ilha está muito mais próxima das costas da China - o estreito de Qiongzhou tem uma largura em média de 30 km) e com a posição de Quemoy (que por ser muito menor tem um perímetro defensivo muito mais fácil de guarnecer). Pior, Hainan situa-se a 1.250 km de Taiwan (o que é o quíntuplo da distância entre Quemoy e Taiwan), o que tornava mais complicada a questão dos reforços. Como se pode perceber pelo mapa abaixo, o exército invasor contornou o problema da falta de meios anfíbios abusando da sua superioridade numérica. Em vez de um grande desembarque inicial, posteriormente reforçado, eles foram lançando, desde o princípio do mês de Março de 1950, sucessivas vagas de desembarque na ilha em locais distintos, desembarques esses que obrigavam ao empenho progressivo da guarnição de defesa para as conter nas praias mas em locais dispersos. Não se afigura uma táctica brilhante, mas funcionou. A prazo, o número de assaltantes continuou a crescer porque os nacionalistas não conseguiam interditar a navegação no estreito de Qiongzhou aos invasores comunistas e tornou-se impossível que os defensores mantivessem a coordenação da sua defesa dada a multiplicação dos desembarques e dos locais ameaçados. A notícia do Diário de Lisboa de há 70 anos, da perspectiva da situação quando apreciada pelos nacionalistas, não era, por isso, nada optimista. Poucos dias depois o general nacionalista Xue Yue iria dar ordens para que as forças que o pudessem retirassem e embarcassem para Taiwan.

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