26 agosto 2019

A «OUTRA» LIBERTAÇÃO DE PARIS

26 de Agosto de 1944. Os últimos combates pela libertação da capital francesa haviam terminado no dia anterior. As unidades regulares do exército é que haviam sido determinantes para o desfecho dos combates e a derrota dos alemães. Apesar do romantismo da causa e numa mostra da verdadeira impotência das unidades(?) irregulares da resistência, nesse mesmo dia em que Paris se anunciava libertada, ocorria o massacre de Maillé, uma represália dos alemães que causou 124 mortos civis entre a população de uma aldeia do centro de França. Só que agora a Paris libertada era agora objecto de um outro combate, este político. Os beligerantes são franceses, de um lado os comunistas que infiltravam e controlavam quase todas as redes clandestinas da resistência parisiense que criara a ficção da auto-libertação da cidade e, do outro lado, uma autoridade muito periclitante, encimada pela figura do resistente-mor, aquele que fora a voz da não aceitação desde sempre da derrota de 1940, Charles de Gaulle, que vinha tomar posse dela. O passeio pelos Campos Elísios (acima) só aparentemente é apenas uma manifestação de regozijo. Também é uma aclamação e uma expressão de legitimidade popular que os comunistas se viram obrigados a acatar. A exibição da suserania gaullista é rematada com uma missa solene na catedral de Notre Dame*, excelente ocasião para dissociar os comunistas da cerimónia. A coroar a cena, como se fosse bom demais para ser verdade, quando da chegada de de Gaulle à catedral começam-se a ouvir tiros, a que ele reage com a maior impassividade. Se dúvidas ainda houvesse, Paris estava «conquistada».

* Precisamente quatro meses antes, houvera naquela mesma catedral uma outra missa solene por ocasião da presença em Paris do Marechal Pétain. A grande diferença entre os dois Te Deum é que o cardeal Suhard, arcebispo de Paris, que celebrara a missa com Pétain, fora sumariamente dispensado de o fazer por de Gaulle.

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