07 agosto 2019

OS DISPOSITIVOS QUE ESPALHAM (AINDA MAIS) A MORTE

Um dos atiradores norte-americanos (mais dois!) que mais recentemente se destacou nas notícias que nos chegam dos Estados Unidos, terá comprado um destes carregadores para acoplar à sua arma. Como se pode perceber pela fotografia, cada um daqueles tambores tem capacidade para 100 munições(!). Em termos teóricos e se a arma não se encravar a meio, numa comparação que poderá dizer alguma coisa a quem tiver cumprido serviço militar, isso equivalerá ao poder de fogo de 5 G-3, ou seja, a toda uma secção de infantaria de combate. Para os veteranos das guerras de África pode até acrescentar-se, noutra comparação vivida, que um tipo com uma arma destas vale por quase todo o pessoal armado que seguia em cima de um Unimog... Só que, lá pelos Estados Unidos, um gadget destes pode comprar-se numa loja qualquer e até ser encomendado por catálogo. Esclareça-se que os profissionais (militares e polícia) não os apreciam particularmente: como as armas originais não estão concebidas para ser submetidas a tais esforços, os canos têm uma grande tendência para sobreaquecer e a arma a encravar-se, no caso das munições não estarem a ser usadas com parcimónia; também não é apreciado o facto do dispositivo incentivar o consumo de munições, tornando as armas assim alimentadas comparativamente mais caras de manter. Na verdade, estes robustos carregadores são o produto comercial típico que apela para um cliente civil, leigo e deslumbrado. O tal que, quando desequilibrado e sentindo-se cheio de poder, vai à procura de um inimigo. Terá sido o que aconteceu - mais uma vez - lá pelos Estados Unidos, que é um país onde este género de coisas acontece, acontece, acontece, mas onde parece impossível adoptar legislação correctiva para que este género de actos não se repitam. Ou que, ao menos, se possam limitar as suas consequências danosas. Ainda na semana anterior aos incidentes, e de mansinhoa procuradora-geral do estado da Florida (republicana) se destacara pela sua proposta de revogar legislação que banira a venda de metralhadoras de guerra, uma decisão que fora aprovada após dois grandes massacres* ocorridos naquele estado. A explicação canónica dos defensores do armamento e a que mais se costuma ler por aí é que não são as armas que interferem com os utilizadores tresloucados, que eles já existem, e apenas as usam, mas isso é o tipo de argumentação que quer contornar o facto óbvio de que são este tipo de armas e de apetrechos que lhes dão toda uma outra capacidade acrescida de matar. Mais gente. E, para mim, há qualquer coisa de intelectualmente malsão em quem teima em não querer assumir esta evidência para base de discussão sobre o assunto.

* Por grandes massacres entenda-se aqueles onde morrem um substancial número de vítimas, para cima de uma dúzia de mortos e dezenas de feridos. Houve outros, como este, este, este ou este, todos eles também ocorridos na Florida nos últimos seis anos, e em que o número de vítimas mortais apenas rondou a meia dúzia...

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