10 de Agosto de 1989. Nos Estados Unidos é notícia a ascensão do primeiro afro-americano ao cargo mais elevado da hierarquia das forças armadas. O Diário de Lisboa do dia seguinte abraça o episódio como nosso também e faz um grande título em destaque com o trocadilho do nome do general Colin Powell, recém nomeado, e a expressão Black Power, um dos slogans históricos da causa dos afro-americanos. Não se podia dizer que a nomeação de um afro-americano para aquele cargo fosse precoce. Desde a criação do cargo de presidente do Estado Maior Conjunto (Joint Chiefs of Staff) em 1949, onze titulares haviam-se sucedido no cargo nesses 40 anos sem que nunca um afro-americano o ocupasse, o que se compreenderia, já que a densidade de afro-americanos entre o corpo de oficiais generais do exército, marinha e força aérea devia ser tanta como a do ar na estratosfera. Daí o maior significado da escolha feita pela administração do presidente Bush (pai). Entretanto passaram-se 30 anos e, apesar da sociedade se ter modernizado, a Colin Powell sucederam-se outros oito titulares no mesmo cargo, incluindo o seu próximo sucessor, o general Mark Milley. E mais nenhum deles foi afro-americano. Considerando que os censos mostram que um entre oito norte-americanos é afro-americano talvez se esperasse outro resultado, mas como estes são cargos de nomeação não faz sentido exigir no caso qualquer equidade. Mas há dois ditados que aqui apetece evocar. O primeiro, quanto é oportuno mudar entusiasmos, que uma andorinha sozinha não costuma fazer a primavera; e o segundo, que diz que o pão do pobre, quando cai, cai sempre com o lado da manteiga para baixo - e esses são grandes ditados, apropriados de evocar quando os acasos da vida apontam sempre e só num sentido.
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