Ontem prometeu-se contar-se uma ou outra história sobre o vice-presidente Dan Quayle, que ocupou esse cargo entre 1989 e 1993, nomeadamente aquilo que o vocacionava para o entendimento das questões da astronáutica e astronomia, aspecto relevante para quem, como ele, fora incumbido por George Bush (pai) de presidir ao Conselho Nacional do Espaço (National Space Council, no original), um órgão na directa dependência do próprio presidente. A escolha foi uma desgraça. Dan Quayle foi o exemplo acabado do bronco que dizia asneiras em série, quando isso era considerado um defeito na política americana. A frase acima que lhe é atribuída é um exemplo disso: «É altura da raça humana entrar no Sistema Solar». Pode não arrancar muitas gargalhadas mas a culpa não é da qualidade da piada, tanto mais que foi involuntária. A quantidade das gargalhadas depende também da qualidade da audiência. Analisando o que Quayle dizia, percebia-se que ele não era ignorante, era apenas estúpido e que não compreendera nada do que lhe haviam ensinado. Nesta sua outra frase famosa associada à astronáutica, os dados estão lá, a massa cinzenta mostrando que os percebera é que não: «Marte está essencialmente na mesma órbita [da Terra] (...) Marte está quase à mesma distância do Sol, o que é muito importante. Há fotografias que mostram o que parecem ser canais e água. Se há água, isso significa que há oxigénio. Havendo oxigénio, isso significa que podemos respirar.» As afirmações de Quayle eram aquilo que se podia classificar, com toda a propriedade, um chorrilho de disparates - as fotografias recolhidas da superfície de Marte mais de uma dúzia de anos antes (abaixo), já permitiam desmentir tudo o que ele dissera. E imagine-se que haviam nomeado o palerma para presidir a um organismo que tutelava directamente a exploração espacial! Motivo por que o vamos encontrar de visita à NASA, a celebrar a passagem da Voyager 2 por Neptuno. Mas isso era no tempo em que era embaraçoso ser-se assim tão estúpido em público. Hoje a sociedade norte-americana assume-se ignorante sem complexos, nota-se até um certo requinte altivo em dar mostras de uma estupidez que nos parece ser até retocada, artificial, como as pestanas femininas ou então certas tatuagens masculinas no braço, desenhadas expressamente para parecer dar mais grossura aos bíceps. A estupidez tornou-se um adereço comum, ouvem-se várias ao longo do dia, e no que à sua exibição despudorada diz respeito, vivemos, de facto, tempos históricos com a presença de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos.
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