29 agosto 2019

MAIS DEPRESSA SE APANHA UM COXO DO QUE UM MENTIROSO

Os portugueses não se conseguem esquecer de como em 2011 foram massacradas com a mensagem de que a subida da yield dos títulos da sua dívida pública fora da sua responsabilidade colectiva, porque haviam vivido acima das suas possibilidades. Olhando em volta para os seus outros parceiros europeus, o panorama era claro e a explicação transparente, porque os mercados insistiam em atacar especificamente os países perdulários, como a Grécia, Portugal, a Irlanda, todos resgatados, a que se seguiria inexoravelmente a Espanha, a Itália, se não se fizesse nada. As razões eram específicas e da responsabilidade dos países que, com a sua incúria, haviam causado tal crise e agora pagavam o preço disso.
Entretanto, passaram-se um punhado de anos. Os países faltosos foram ultrapassando as suas crises como puderam, de forma mais canónica (Passos Coelho), de forma menos canónica (Alexis Tsipras). A esses já se sucederam outros (Costa, Mitsotákis). E o panorama do mercado das yields das dívidas públicas acalmou substancialmente: a da Grécia a 10 anos, que chegou a ser transaccionada a 40% em princípios de 2012, cotou-se ontem em valores próximos de uns triviais 1,8%. Mas aquilo que outrora era causado pelo demérito dos países em causa (o tal viver-se acima das possibilidades), agora, quando em sentido inverso, não se deve à especificidade e ao mérito dos países em causa, mas antes «às tendências gerais que fazem com que as yields tenham vindo a cair nos países da zona Euro». Ou seja, a explicação que agora nos querem impingir é que neste caso das dívidas públicas quando as taxas se agravam a culpa é do devedor; quando melhoram a causa deve-se aos mercados. Mas aquele que me leu até aqui não tente ver esta incoerência a ser aflorada sequer no Observador...

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