01 agosto 2019

OS "MACACOS"... MAS OS DE IMITAÇÃO

1) A oportunidade da divulgação desta conversa é mais do que estranha, quando se toma em conta o mau momento atravessado por Donald Trump, com sondagens demonstrando que ele é considerado racista como nenhum outro antecessor antes dele. É verdade que estas revelações, que esperaram 48 anos para ser conhecidas, não elevam a reputação do actual ocupante da Casa Branca, mas rebaixam a dos seus dois antecessores, ambos republicanos, naquilo que costuma ser a segunda melhor manobra para as nivelar, às reputações (se não consegues elevar a tua, rebaixa a dos outros).
2) No artigo original, que apareceu originalmente publicado na revista The Atlantic (a do último título acima), o autor tenta fazer passar a impressão que tanto Nixon quanto Reagan ficaram extremamente contrariados com a admissão da China na ONU em substituição de Taiwan. Ora quem tenha uma ideia da história daquele período sabe que Nixon ambicionava visitar a China (o que aconteceu quatro meses depois) e que aquele gesto havia sido uma das mais previsíveis "moedas de troca" que havia sido exigida pela China para que a visita tivesse lugar. Aliás, Outubro de 1971, mês em que o episódio e a conversa teve lugar é o mesmo mês em que Henry Kissinger esteve em Pequim numa visita secreta! A criticar Nixon, será pela hipocrisia para com Reagan.
3) Um jornalismo competente teria dado destaque, pelo menos, a um dos aspectos supracitados desta historieta, para não nos referirmos ainda a um terceiro, óbvio, sobre aquilo que não aparece expresso, apenas sugerido por detrás de tão apropriada divulgação: que estas gravações mostram as opiniões privadas de Nixon e Reagan; enquanto Trump tem-nas mostrado, às suas opiniões racistas, publicamente e até com uma certa ostentação. Mas não, o jornalismo português não é competente, esmera-se nos trabalhos mas de tradução, servindo apenas de caixa de ressonância de quem montou estas manobras na origem. Se a história das gravações mete "macacos" (como palavra chave que impressiona o leitor), a história a respeito da história também os mete, mas são outros "macacos"..., os de imitação.

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