03 junho 2019

A CRIAÇÃO DO GOVERNO PROVISÓRIO DA REPÚBLICA FRANCESA

A 3 de Junho de 1944, em Argel, aquele que fora até aí o Comité Francês de Libertação Nacional (CFLN) decide-se a mudar a sua própria identidade e assumir a designação de Governo Provisório da República Francesa (GPRF), designação que os governos franceses irão manter até à proclamação da IV República Francesa, em 1946. A presidência do governo (como a do comité) era, naturalmente, de Charles de Gaulle, após se ter desembaraçado do seu rival Giraud. E, na verdade, nada legitimava os membros do comité, do ponto de vista da legalidade da III República, a assumir aquele título. Mas a pressa desta metamorfose semântica de há 75 anos explicava-se pela aproximação da data prevista para o desembarque na Normandia (que virá a ter lugar a 6 de Junho). E presumia-se que a existência deste governo (ainda que provisório) recém criado, viesse facilitar a captação da lealdade das autoridades das regiões da  França que viessem a ser libertadas, em substituição da lealdade ao regime de Vichy dos últimos quatro anos. O GPRF nomearia o prefeito e algumas figuras de topo para encimar a administração pré-existente (não dispunha de quadros para mais...) nas regiões livres, mas, com algumas excepções de colaboracionistas mais flagrantes, o resto da hierarquia bandear-se-ia (naturalmente...) para a nova situação. Esperava-se isso e foi isso o que veio a acontecer. O perigo temido pelos franceses (e que assim se evitou) era que os americanos nomeassem autoridades militares aliadas para assumir aquelas responsabilidades, como acontecera em Itália. O que as pessoas raramente se apercebem quando seguem a narrativa da libertação de França é que a legalidade que sustentava as pretensões de de Gaulle e o seu governo a representar a França e os franceses era, além de duvidosa, "fresca" como uma parede acabada de pintar: aparecera 72 horas antes do desembarque da Normandia.

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