30 março 2017

O(S) ATENTADO(S) DA PRIMAVERA DE 1981


30 de Março de 1981. Há 36 anos o presidente norte-americano Ronald Reagan foi alvejado por um atirador solitário à saída de uma cerimónia onde acabara de comparecer em Washington. Apesar da notoriedade do cargo, Ronald Reagan ainda era um novo nome a que as pessoas se estavam a habituar a ouvir nos noticiários e telejornais, já que ele ocupava o cargo há pouco mais de dois meses. Mas o contraste com o atentado precedente que vitimara o seu antecessor John F. Kennedy ia muito para além das respectivas notoriedades pessoais. O que em Dallas em Novembro de 1963 fora casual e um bambúrrio de sorte, a presença de um curioso - Abraham Zapruder - que filmara todo o atentado, fora em 1981 francamente superado, com a presença simultânea no momento de cinco câmaras a cobrir o que acontecera! Não que isso tornasse mais perceptível o que acontecera, mas a confusão que rodeara o atentado aparecia-nos agora em casa com a chancela da ABC (acima), uma das três grandes cadeias de televisão dos Estados Unidos.

O que é interessante é que, com o som dos disparos e a confusão que se seguira, se estabelecera um padrão de qualidade noticiosa. Quando, dali por mês e meio, a 13 de Maio, o papa João Paulo II é, por sua vez, também vítima de um outro atentado em Roma, constata-se um certo desapontamento porque, apesar da profusão de câmaras existentes na praça de São Pedro, nenhuma consegue captar o dramatismo do preciso momento em que o pontífice é atingido e tomba. Actualmente, existem já tantas câmaras - de vigilância ou mesmo os telemóveis pessoais - que há quase sempre imagens para mostrar o momento - como aconteceu ainda a semana passada, em Londres. Um outro aspecto que também mudou nestes 36 anos é o enfoque como eram (e são) considerados os autores de tais atentados. Tanto o autor do atentado sobre Ronald Reagan, John Hinckley Jr., como aquele que cometeu o atentado sobre João Paulo II, Mehmet Ali Ağca, foram catalogados de desequilibrados mentais, apesar do potencial de especulação a respeito deste último, que era muçulmano e turco.
Ou seja, naquela época quando se afiguravam duas possíveis abordagens sobre os motivos de um terrorista, a do desequilíbrio mental suplantava a do muçulmano radical, ao contrário do que acontece hoje, em que as mais remotas conexões com algo que tenha a ver com islamismo serve desde logo de explicação para o que o motiva. A propósito, alguém ainda se lembra de quem era e de como se chamava este senhor da foto acima? Mohamed Lahouaiej Bouhlel e foi o responsável pelos atentados de Nice, sobre o qual nos foi prometido uma investigação mais detalhada sobre a conversão súbita que o levara a cometer tal acto hediondo. Entretanto, imagens, já se encontraram, os resultados da prometida investigação é que, mesmo passados oito meses, parecem estar a demorar mais um bocadinho... Caímos no paradoxo que se aceitou que John Hinckley Jr. quis matar o presidente Reagan apenas para impressionar a «namorada», mas que qualquer muçulmano quando comete um gesto tresloucado tem de ter razões religiosas radicais para tal.

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