Celebra-se hoje (8 de Março) o centenário dos acontecimentos que culminaram com o derrube do czar em Petrogrado, naquela que ficou conhecida pela Revolução de Fevereiro - por causa do uso de calendários distintos (juliano), o dia correspondia a 23 de Fevereiro na Rússia. Grandiosa nas suas consequências destrutivas (nada menos que o derrube do regime autocrático russo), mas frustrada no que os seus protagonistas vieram a construir a partir daí, esta Revolução, afinal tão importante nas suas implicações políticas imediatas, faz lembrar aquelas tias solteironas que morreram sem descendência e a quem apenas os sobrinhos mais empenhados cuidam da memória e da sepultura. Mas só por causa dos seus interesses próprios. Para aquele que foi o discurso oficial do império soviético durante os setenta anos que o regime vigorou (e ainda agora entre os seus herdeiros não contritos), esta Revolução de Fevereiro terá sido apenas uma fase prévia da outra (a de Outubro - que teve lugar em Novembro), uma daquelas teses que não resiste ao escrutínio crítico: qual é o revolucionário que se envolve em revoluções a prestações? Os bolcheviques foram apenas um parceiro menor dos acontecimentos que se iniciaram há precisamente cem anos, apesar dos vários revisionismos históricos posteriores. E uma forma que descobri muito eficaz de o conseguir fazer compreender a quem obtusamente se recusa a fazê-lo pelo raciocínio abstracto, é compará-lo com o nosso caso concreto: querem ver, por analogia, que a nossa verdadeira revolução - a que definiu o regime - foi a de 25 de Novembro de 1975, de que a de 25 de Abril de 1974 foi apenas a fase inicial?... (Estou a imaginar uma data de camaradas a retorcerem-se para refutar esta lógica).
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