A primeira fotografia data de 1955 e é da autoria de Henry Cartier-Bresson; a última de 1973 e o autor é Arnin Schulz. Entre as duas, uma fotografia colorida, convencional, de autor anónimo, cujo padrão da cor e estética remete indiscutivelmente para a década intermédia, a dos anos sessenta (60's). O local é sempre o Terreiro do Paço em Lisboa. A colorida bem podia ter sido a fotografia que ilustraria um daqueles bilhetes-postais que os turistas da época tanto gostavam de enviar para casa.
Contudo, é aos dois artistas que, no conjunto e com este encadeamento, parece melhor assentar a mentalidade de adeptos do tema compulsivo do bilhete-postal exótico, pois, considerada a coincidência do tema escolhido por ambos, até fica a impressão que, nos 18 anos que medeiam entre as suas fotos, terá havido uma rotina propositada de carroças puxadas por burricos que atravessam o Terreiro do Paço para que os fotógrafos sensíveis captassem o insólito do momento...
Até ao começo dos anos 90, não era incomum verem-se carroças a circular em Lisboa e, nalgumas zonas (Benfica e Telheiras, por exemplo), até rebanhos a pastar...
ResponderEliminarEntenda-se: eu aprecio as fotografias de carroças puxadas por burros num ambiente urbano. Algumas têm até uma "potência" exemplar: há uma fotografias dessas, tirada na avenida 24 de Julho por volta de 1975, e com a carroça e o burro diante de um gigantesco mural do MES (e infelizmente de autor desconhecido) que expressa portentosamente a distância colossal que se estendia entre o povo e as elites que passavam o tempo a evocá-lo de acordo com as doutrinas em voga e o que estava escrito nas «sagradas escrituras».
ResponderEliminarhttp://herdeirodeaecio.blogspot.pt/2012/02/ainda-as-paredes-do-prec.html
Mas aquilo a que aqui me refiro é diferente: é aos preconceitos eivados de muita ignorância de quem nos vinha fotografar a Portugal. Eu explico: será que, por aqueles anos (1950/60/70s), já não havia ciganos em França? É verdade que não os vejo muito fotografados mas, por exemplo, na BD das Jóias de Castafiore (1964) do Tintin, vêmo-los a deslocarem-se nas suas tradicionais caravanas puxadas ainda por animais. Então porque é que não se imagina um fotógrafo de referência dessa época a escolher como tema (exótico) uma dessas caravanas a atravessar a Praça da Bastilha em Paris? Querem ver que a polícia não os deixava circular por lá? Ou será que "o momento" não encaixaria nos preconceitos de quem fotografava?
Ao contrário de si, a fotografia não é uma das minhas especialidades. Também existem fotografias de "fenómenos" deste tipo tiradas em Paris, agora ignoro é se por fotógrafos de referência... Assim, de repente, lembrei-me desta, que até se vende, hoje em dia, como postal turístico em Paris - http://www.photononstop.com/fiche.php?I=1340861&C=b0
ResponderEliminarNão sei se a situação será real ou posada, mas ainda assim aqui a deixo.
A fotografia não é uma das minhas especialidades. Onde acima posso deixar subentendido que não existem fotografias de Paris com o tema como o descrevi, melhor teria sido ter deixado claro que «eu não conheço» fotografias assim da autoria de fotógrafos famosos que, pela sua obra, poderiam eleger tais temas no "formato rústico-camponês", casos de Willy Ronis ou Robert Doisneau, e mesmo não franceses como Frank Horvat ou Elliot Erwitt. Aos dois primeiros conheço fotografias com temas rústicos mas operário-urbanos, e também rurais, mas aí captados na província, no Auvergne, por exemplo. http://herdeirodeaecio.blogspot.pt/2015/03/a-so-pessoura.html
ResponderEliminarQuanto à fotografia que me referenciou, não a conhecia. É muito engraçada, mas parece-me tratar-se de uma campanha publicitária ao leite Yolait - reparou que há dois anúncios ao Yolait afixados no autocarro para onde o pseudo-proprietário pretende embarcar a vaca? O tipo de autocarro e o 2 CV estacionada ao lado permite datar aproximadamente a fotografia da década dos 50's. (Na década seguinte já Georges Simenon punha o "seu" Comissário Maigret a queixar-se do desaparecimento daqueles autocarros de plataforma aberta à retaguarda que lhe permitia continuar a fumar tranquilamente o seu cachimbo quando os apanhava.) Por outro lado, parece-me não ter havido qualquer esforço em "camuflar" o pretenso proprietário da vaca com quaisquer traços rurais: ele veste um fato vulgar de trabalhador do sector terciário, não um fato domingueiro de alguém vindo das berças.
Reli o comentário que escrevi e a minha alusão à sua especialidade em fotografia soou-me num tom algo agreste, ainda que esse tom tenha sido absolutamente involuntário, o que esclareço agora.
ResponderEliminarQuanto ao resto, tudo parece indiciar que a fotografia foi posada (por curiosidade, é actualmente um postal muito vendido em lojas parisienses de recordações para turistas…).
Não senti a sua alusão por agreste. Se me apressei a desmenti-la foi pela facilidade como entre nós se guindam as pessoas ao estatuto de especialistas quando não há qualquer razão para isso, trate-se de "coisas ligeiras", como o Cláudio Ramos ser "especialista" em "famosos" ou de outras coisas que deviam ser mais sérias, como tomar o Miguel Monjardino por "especialista" em assuntos internacionais. Aliás, a TV actual dificilmente comporta o tratamento especializado de qualquer assunto.
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