O sistema de votação que elege o presidente dos Estados Unidos é criticável. Permite que o candidato vencedor possa não ser o que recebe mais votos populares. Mas também não parece ter sido essa a preocupação central de quem o concebeu. Normalmente vence quem recebe mais votos mas a sua prioridade parece ter-se concentrado em privilegiar, mais do que o voto popular, o candidato que agrupasse o maior número de estados que compõem a União. E por isso o apuramento dos resultados é realizado isoladamente, círculo a círculo - estado a estado. A adição dos votos de todos os estados é um exercício que se pode fazer mas que é irrelevante para a contabilização do resultado final. É o mesmo princípio que se aplica aos jogos de ténis (abaixo): o que é importante é vencer cada set. O parcial dos jogos só é importante enquanto o set estiver em disputa; depois torna-se irrelevante, ao contrário do que acontece num jogo de futebol, por exemplo, em que os golos que forem marcados na primeira parte, continuam a contar para a segunda. No ténis é possível que alguém vença um match por 2 sets a 1 com os parciais de 6-4/1-6/6-4; no final, o vencedor ganhou 13 jogos (games, 6+1+6) enquanto o vencido ganhou 14 (4+6+4). Só que o primeiro vence porque os ganhou na ocasião certa. Na prática, não é muito frequente que o vencedor de um match tenha tantos ou menos jogos ganhos do que o derrotado, mas é uma situação que acontece até nas grandes finais: em 1992 com André Agassi em Wimbledon, em 1999 outra vez com André Agassi em Roland Garros, em 2012 com Andy Murray no US Open. Se em ténis o atleta vencedor ganha os sets certos, em eleições com essa mesma filosofia, o candidato vencedor ganha nos círculos eleitorais certos. Foi o que aconteceu com George W. Bush em 2000 e foi o que aconteceu agora com Donald Trump. É por isso que me cansa e considero um despropósito insistir em bater na tecla da votação popular como acima se lê no artigo do Observador. Fosse uma questão conceptual e um erro grave e haveria por aí um clamor contra as regras da pontuação do ténis ou do voleibol. Não há, nem nunca houve. Não vale a pena vir agora insistir em falar de bugalhos, porque as regras do jogo permaneceram as mesmas e eram conhecidas das duas partes concorrentes desde o início. As eleições são aquilo que são e não aquilo em que as queremos transformar no caso do seu desfecho não nos agradar.
Adenda: Veja-se este outro poste, publicado posteriormente.
A questão do método eleitoral do presidente nos EUA é antiga e nem pelo fato de os americanos se sentirem confortáveis com isso o torna menos importante.
ResponderEliminarA contagem final dos votos não é, sequer, a mais importante. Considero bem mais grave a existência dos votos por correspondência que permitiram que pelo menos 30 milhões de americanos tivessem votado no decorrer da campanha eleitoral.
Se o método na sua totalidade fosse seguido noutras partes do mundo e não faltariam as criticas dos "observadores" maioritariamente oriundos do "garante da democracia" no mundo inteiro.
Pode não ser comparável mas imaginemos que em Portugal, em cada distrito, o partido com mais votos elegia todos os deputados.
Não faltaria.
Cumprimentos