Há mais de trinta anos, Jô Soares protagonizava um quadro no seu programa humorístico em que fazia uma personagem irascível, prestes a explodir, enquanto repetia incessantemente E aproveita que eu 'tou calmo!!! Se conto esta história é porque ela me surgiu a propósito de alguns comentários que tenho lido por aí ainda a respeito dos resultados das eleições presidenciais norte-americanas. Alguns deles são uma verdadeira agressão à fleuma alheia. Há quem tente amenizar os erros das sondagens, desconhecendo as centenas de sondagens estaduais que erraram nas suas previsões (apenas um exemplo: oito das nove sondagens últimas, apresentadas já em Novembro, a respeito dos resultados na Pennsylvania apresentavam Hillary Clinton a vencer; a que o não fazia, dava um empate; e no fim ganhou Donald Trump...). E há quem venha, num exercício superlativo do truísmo, designar isto por "previsões estatísticas do futuro"! E depois há quem, num outro exercício que combina o What if? com o Wishful Thinking, vaticine agora que Bernie Sanders poderia ter alcançado um melhor resultado que Hillary Clinton. Quanto a isso, é sempre complicado refutar as especulações com elementos sólidos. Mas será que quem sugere ou insinua isso saberá que, assim como Hillary Clinton teria sido a primeira mulher se tivesse sido eleita presidente dos Estados Unidos, Bernie Sanders teria sido o primeiro presidente judeu?... 'Tá-se a imaginar o que seria uma campanha presidencial contra um candidato judeu?... Ele há opiniões que desencadeiam qualquer coisa para além da discordância, sei lá, a vontade de pregar um bolo na cara do opinante?...
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