O que terá mudado definitivamente nos últimos anos no acompanhamento de actos eleitorais, como é o caso das eleições presidenciais norte-americanas de hoje, é que o espectador interessado, em vez de acompanhar os cenários e previsões elaborados pelos variadíssimos órgãos de comunicação social que os cobrem (acima estão 15(!) previsões) pode elaborar as suas: pode ser (costuma ser) muito mais divertido do que apenas ver as que foram feitas pelos outros. As minhas, por exemplo, dão 260 eleitores para Clinton/Kaine versus 195 para Trump/Pence com 83 eleitores indecisos (Toss-up). Comparativamente, sou um pessimista, já que todas as previsões acima dão um número de eleitores adquiridos para Hillary Clinton superior aos que ela necessitará para ser eleita (270). Se a comunicação social fosse consequente, não se perceberia esta dimensão da expectativa que a mesma comunicação social cria à volta das eleições. Mas a grande diferença que eu noto no espaço público é que, como a informação política também já é apresentada como se se tratasse de um entretenimento, equiparado a filmes ou desporto, sente-se aqui a falta da ascendência dos ídolos nesta actividade: ninguém tem pretensões de representar da forma inigualável como o faz Robert de Niro ou de jogar ténis como Andy Murray, mas os protagonistas da política, mesmo os maiores, não parecem possuir, aparentemente, quaisquer atributos que nós não consigamos emular. E quando a quem gravita à volta dos entretenimentos, se os politólogos gozam indiscutivelmente de muito maior prestígio do que os paineleiros da bola - o que não é difícil, sendo estes últimos o fundo do tacho - a reputação social dos politólogos é claramente subalterna à de um crítico de cinema.
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