Não consegui identificar a obra de Júlio Dinis em que se trava um instrutivo diálogo entre um jovem ilustrado pelos estudos e um retrógrado camponês em que o primeiro desafia o segundo a explicar-lhe o que é o vento, ao que este candidamente responde que era como se fosse um sopro. Foi pretexto para que o camponês recebesse uma explicação consolidada pelos últimos conhecimentos de meteorologia (era a diferença de pressões que provocava a circulação atmosférica), explicação da qual suspeita-se que o destinatário não deverá ter tirado grande proveito. Mas claro, aquele era o Portugal atrasado, rural e interior do Século XIX que Júlio Dinis tanto gostava de descrever nas suas obras. Entretanto passou-se quase século e meio desde a publicação das obras daquele escritor tão prematuramente desaparecido.
Apesar da universalização do ensino de então para cá, percebe-se que o senhor da fotografia acima não terá tido uma conversa prévia com qualquer jovem ilustrado que lhe explicasse que as ondas, como o vento, são energia que se propaga e não água que se desloca, o que esvazia de sentido este gesto de as tentar engarrafar para as vender. Mas no Portugal dinâmico, comercial e litoral do Século XXI, mais do que o rigor científico, parece que o que importa mesmo é mostrar iniciativa e, nesse sentido, a ignorância do senhor acima está adequada aos tempos de uma forma que a do camponês de Júlio Dinis não estava. Não é este Portugal dirigido por um primeiro-ministro consultor de uma empresa que se propunha ministrar cursos de formação a centenas de empregados de aeródromos onde não aterravam aviões?
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