13 março 2014

O PREÇO DA ASTRONÁUTICA

 A 5 de Novembro do ano passado, a Índia lançou a sua primeira sonda espacial para Marte, que foi baptizada com o nome de Mangalyaan, em mais um episódio da intensa concorrência tecnológica-espacial entre potências a que os media não costumam dar a devida visibilidade e importância¹. E duas semanas depois, porque se estava então numa janela celeste em que as trajectórias elípticas entre as órbitas da Terra e de Marte se tornam mais fáceis (e económicas), a agência espacial dos Estados Unidos lançou uma outra sonda espacial com o mesmo destino, baptizada MAVEN, especificamente destinada a estudar a atmosfera marciana. Prevê-se que ambas atinjam o planeta vermelho em Setembro próximo. Porém, o custo dos programas é substancialmente diferente: o indiano está orçado em cerca de 70 milhões de dólares enquanto o norte-americano monta a 485 milhões…
…a que há ainda que adicionar 187 milhões de custos de lançamento, num total de 669 milhões de dólares, o que é quase o décuplo do primeiro. Embora o raciocínio possa ser simplista, porque as comparações entre missões devem ser feitas tendo em conta os seus objectivos, a diferença merecerá ao menos uma explicação substantiva e convincente, como aquelas que acompanham as diferenças entre um automóvel de 15.000 e outro de 150.000 euros. O que é interessante nesta comparação é que os indianos parecem estar a estabelecer novos padrões de probidade (também) em termos de exploração espacial. É que, já agora e comparando com o orçamento atribuído ao multipremiado Gravity (100 milhões de dólares), não deixa de ser irónico que se consiga colocar uma sonda em órbita de Marte por ⅔ dos custos com que se finge colocar Sandra Bullock em órbita na Terra.
¹ A Índia pretende apresentar resultados num campo onde a sua rival directa, a China, registou um lamentável fracasso em 2011 quando a sua primeira sonda destinada a Marte (Yunghuo-1) não chegou a abandonar a órbita terrestre.

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