Todos os portugueses com mais de cinquenta anos teriam uma certa obrigação de saber o que se passou com a tentativa de golpe de estado que teve lugar em Espanha em 23 de Fevereiro de 1981. Na altura foi cabeçalho de todos os jornais e motivo para interromper as emissões regulares da rádio e da televisão. Ainda haverá muitos milhares que se lembrarão do episódio, incluindo os pormenores da rocambolesca erupção dos guardas do tenente-coronel António Tejero Molina pelo congresso de deputados em plena sessão, a imagem mais simbólica do golpe (acima), embora seja de esperar que a maioria já não tenha hoje nem ideia sobre o assunto. Contudo, uma das excepções a essa maioria silenciosa terá de ser o professor Marcelo, tanto mais que o episódio e os seus detalhes foram até objecto de um refrescamento há três anos quando foi editado um discutido livro sobre o assunto intitulado Anatomia de um Instante – e é sabido como o professor lê (e recomenda...) dúzias de livros por semana.
Quando no Domingo passado, no seu habitual programa daTVI, o professor Marcelo se referiu ao episódio da invasão do congresso de deputados na evocação que fazia ao recém-falecido Adolfo Suárez, esquecendo-se do nome do general que confrontou os guardas (Gutiérrez Mellado, ministro da Defesa) ou de nomear Santiago Carrillo como outra pessoa presente que não obedeceu às ordens dos insurrectos para se baixarem, mostrou a vários milhares de pessoas na sua audiência quanto há assuntos cuja profundidade ele domina ainda menos do que os próprios. O que não o impede de os abordar com aquela desfaçatez de vendedor de mezinhas de feira. Está de parabéns a redacção da TVI, por ter deixado a nota correctiva no auricular de Judite Sousa; não está de parabéns esta última, que já tem os mais de cinquenta anos que acarretariam uma certa obrigação – também profissional – de saber alguns detalhes do que se passou durante o golpe que ficou a ser conhecido por 23F.
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