29 março 2012

THE THICK OF IT

A série televisiva intitula-se, no original, The Thick of It. A tradução deste título é complicada: thick é um adjectivo traduzível por espesso, grosso, denso, compacto, cerrado, apinhado, turvo, mas também bronco ou estúpido, embora a palavra também se possa referir à parte mais espessa ou mais dinâmica, ou ao ainda ao centro, de algo. Em suma, dar-lhe um título em português seria (será) uma oportunidade única para a criatividade do tradutor. É uma série política, vinda de um país (Reino Unido) que tem tradição de qualidade nelas, recordem-se, para exemplo, Yes, Minister (e a sequela, Yes, Prime Minister) ou House of Cards, qualquer delas (abaixo) já aqui referidas aqui no blogue. O padrão de exigência é alto e, começando pelo fim, The Thick of It não me parece estar à altura da comparação.
Terá havido entusiasmo em excesso quando The Thick of It apareceu em 2005 e houvesse logo quem a quisesse qualificar como a versão do Século XXI de Yes, Minister, com o enredo realçando as disputas entre o cada vez mais importante aparelho da informação mais os respectivos assessores de imagem em contraste com o funcionalismo público clássico - e os políticos, não nos esqueçamos deles... A comparação torna-se num exagero que apenas serve para elevar as expectativas de quem, como eu, ainda não tinha visto a série, e provocar o consequente desapontamento. Em The Thick of It encenam-se situações ridiculamente cómicas mas não chega a tratar-se de uma comédia. Os traços das personagens são tão grosseiros – os protagonistas estão, por exemplo, permanentemente a praguejar – que se chega a perder a perspectiva de onde começa e acaba a caricatura…
Mas, mesmo não sendo notável, a série não deixa de ser importante, nem que seja para nos apercebermos das evoluções que o Poder tem vindo a sofrer e da importância relativa que a governação propriamente dita tem vindo a perder em favor da comunicação, a ponto de se edificar uma realidade virtual baseada nesta última: analise-se a imagem acima, onde Malcolm Tucker cruza os braços em desafio a uma proposta que recebeu para que se demita, mas onde essa discussão nos parece irrelevante ao ler-se na televisão por detrás de si o anúncio – que ele ignora – que já o fez… É sempre interessante perceber melhor o modus vivendi desta gente. A surpresa final é a forma como esta série me escapou, e tive que a encomendar na Amazon. A globalização das séries televisivas, especialmente as de língua inglesa, e apesar da existência de vários canais do cabo que lhes são inteiramente dedicadas, revela-se muito menos global do que o que é propalado…

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